terça-feira, 12 de dezembro de 2006

PACO, O MARINHEIRO MERCANTE...



A invenção de Chico Doido
Laelio Ferreira
Moacy Cirne, doutor em gibi lá pelas quebradas de Niterói - querendo dar uma de Doutor Silvana, arremedando Orlando Tejo, este um indivíduo competente, autor do "Zé Limeira, o Poeta do Absurdo" e pedindo a Nei Leandro para confirmar a traquinagem -, pariu, fabricou, um tal de Chico Doido de Caicó. Nasceu um monstrengo, um "poeta" que não chegava sequer à poeira das apragatas do putanheiro bardo paraibano do Teixeira.
O desgovernado rebento foi um desastre: chulo, sem graça, nada tinha de fescenino, de surrealista. Metido a iconoclasta, não rimava bulhufas, metrificava pouco e mal, não acrescentava nada - um absurdo de ruindade! Brincadeira gaiata, infeliz arremedo, uma bufa, por fim.
Esse inventado Chico era uma mistura dos seiscentos diabos : sertanejo analfabeto, discutia Fernando Pessoa. No início dos anos 50, conheceu Zé Limeira (trinta anos antes do livro de Tejo) - e com o negão, tenho absoluta certeza, não aprendeu nada de rima e metrificacao.
Vigia de rua em Natal, dava-se a intimidades com as caras meninas de Maria Boa, vez por outra, impávido, discutindo, parelho, história pátria com Cascudinho, dirigindo, também, lérias, prosando com Otoniel, o homem da "Praieira". Sem carta de ABC na cachola - é dose! - dava pitaco sobre Átila,
Bocage, Casanova, Raimundo Correia, Gregório de Matos e outras feras...!
Tem mais: segundo o dramaturgo de plantão na Capitania das Artes, Chico Doido foi pra Marinha Mercante e conheceu mundos e fundos. Em terras de Espanha perdeu rumo e navio (o apelido era "Paco"!). Morreu, - graças a Deus! - no Rio de Janeiro, onde, perto da Lapa, antes da passagem desta para a outra, bebia cachaça com Nei. Igualzinho ao Zé Limeira, usava óculos escuros - Ray-Ban, calculo.
Ainda bem que Mãe Albina, Kalu de Angicos e Chico Xavier se foram sossegados, partindo para o Azul, livrando-se, todos, da rebordosa de incorporarem o encosto, exu brabo, desse seridoense araqueado. Dessa "alma sebosa", como diria Walter Leitão, ex-prefeito do Assu - que também desta já se foi, muito a contragosto.
Segundo o professor de gibi, não é que, no Rio, Chico Doido, psicografado, deu uma baita entrevista? Do além, receitou à pamparra. Conhecia quase todo mundo aqui em Natal, cupincha de muita gente importante, luzidia - íntimo, declarou no terreiro, peremptório, compenetrado - até de Diógenes da Cunha Lima, François, Enélio, Dunga do Beco, Dácio Galvão - o escambau.
Perguntado, disse ao pai-de-santo que lá por onde lépido flutuava ouviu Luis Carlos Guimarães, o poetinha-juiz, se queixar ("ficou puto!") da sacanagem que, na Academia de Letras, fizeram ao amigo comum Nei Leandro - que perdeu uma vaga de imortal para um empistolado cidadão do País de Mossoró, gente dos Rosado. Pedindo marafo ao cambono de plantão, foi em frente, na embalagem, a desastrada alma do outro mundo, em dia com tudo - diga-se muito bem informado sobre as nossas picuinhas provincianas.
Deitou e rolou. Vaticinou, solene e emocionado, que, um dia, "papai" Moacy seria dramaturgo em Jardim do Seridó. Errou por pouco, tirando um fino...
Natal-nov-2005