sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

DOIS CAMBITEIROS FAMOSOS



(Foto Arquivo)
Laélio Ferreira,
Poeta, pesquisador


Meados da década de cinqüenta. Tempo em que o Atheneu era Atheneu. Fui aluno de Cascudo, Esmeraldo Siqueira, Luiz Maranhão, José Saturnino, Ivone Barbalho, Antônio Pinto de Medeiros e muitas sumidades mais. Inventei ser fundador e orador do Centro Estudantil “Celestino Pimentel” - coisa de Hélio Vasconcelos, Jardelino Lucena e, entre outros, Claudius Fulvius dos Antoninus Pio da Câmara Cavalcanti de Albuquerque (ufa!), filho, “entendeu você”, do desembargador Floriano Cavalcanti.
Também tirava outra onda: ora como primeiro, ora como segundo tarol da Banda. Não a via passar, passava com ela, ancho da vida, marchando avenida afora, feliz da vida.
Não a chamávamos de “marcial”. Intitulava-se assim, airosamente (eles por lá!), a do Colégio Marista, odiada rival. A patota dos irmãos, no Sete de Setembro, desfilava cheia de alamares, espadas, fardas impecáveis, dragonas e estrelas mil - militarizada demais para o nosso gosto. Na pendenga anual entrava, também, um ano ou outro, a da turma da Escola Industrial – antes Liceu de Artes e Ofícios, hoje CEFET.
Nosso Diretor, Professor Celestino Pimentel, sisudo, grave, falando pouco, por debaixo do pano, de julho até o desfile do Sete de Setembro mandava dar nota oito em todas as matérias a quem fosse escolhido para a fanfarra, nem que fosse mesmo para exercer a função de “cambiteiro”, ou seja – explico bem direitinho -, um aprendiz, um garachué que, saindo de forma lá pela rabeira, apanhava e substituía as baquetas que caíssem no chão. Para esse “posto”, considerado até como subalterno pelos mais antigos, os “donos-da-bola”, havia uma concorrência das maiores: a “macacada” ficava indócil. Passar o dia todo marchando, sem estudar um tico, se mostrando para as meninas do Feminino, na Jundiaí e, de propósito, passando, na hora da saída, em frente ao Colégio da Conceição era bom demais!
Só não podíamos – nesse aspeto Celestino era severíssimo – pender para os lados do Marista, senão o pau comia com os “meninos da matinha”, viciados no mel das abelhas dos religiosos. De sacanagem, arriscando, numa provocação, o “inimigo”, chegávamos perto, fazendo “alto” no final da Deodoro, quebrando baquetas, tocando com força. No dia Sete, farda engomada, instrumentos polidos, às escondidas, no oitão da Livraria Atheneu a cana comia frouxa, com “parede” de “Kitut” (carne enlatada). Um vizinho da rua Felipe Camarão, sujeito carola, da Congregação dos Marianos, safado que só ele, estando eu presente, comentou com meu pai, certa feita:

- “Seu” Othoniel, o senhor ainda não notou que a banda do Professor Celestino quando entra na Deodoro, no dia Sete, empesta a avenida com um bafo de cana danado?

Daquela era, muita gente já foi tocar no Azul... Mas lembro de dois jovens e eficientes “cambiteiros” do meu tempo, hoje famosos, cada um deles no seu galho, no seu destino: um, o grande escritor e poeta Nei Leandro de Castro; outro, o engenheiro e senador do PTB Fernando Bezerra. É o registro e dele dou muita fé!

Nenhum comentário: