segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

O CAPITÃO DO DOUTOR FLORO...

Foto/Web
"LAMPIÃO FOI CAPITÃO

O Dr.Floro Bartolomeu da Costa, médico baiano, chegado em 1908 à cidade cearense de Joazeiro, foi o chefe “militar” da revolução caririense de 1914, contra o governo do coronel Franco Rabelo, que derrubou, chegando às portas de Fortaleza com algumas centenas de cangaceiros, arrebanhados na Meca do Padre Cícero, e após expugnar, uma a uma, todas as localidades à margem da estrada de ferro, guarnecidas por Exército e Polícia.
Durante essa terrível luta civil, na qual, como em Canudos, a inssurreição se apoiou profundamente na incoercível mitomania dos nossos broncos e desamparados patrícios dos sertões, foi vítima dos guerrilheiros de Flóro, a 22 de fevereiro daquele ano, o inolvidável democrata norte-rio-grandense, capitão José da Penha, tombado na inglória escaramuça de Miguel Calmon.
Escorado no formidável prestígio do Patriarca – “o anjo do Ceará”, segundo o bispo D. Luiz Antonio dos Santos; o “ladrão Cadmo”, na opinião do padre Alencar Peixoto -, Floro Bartolomeu, apesar da extrema crueza que o caracterizava, foi o verdadeiro civilizador da babilônia carola, impondo-lhe a ferro e fogo, o impulso decisivo para o progresso de que atualmente desfruta: é a segunda cidade do Estado do Ceará, em população, mantendo a primazia quanto à importância industrial e comercial. Todo o sólido calçamento urbano, o granito de que dispõe Joazeiro, em mais de um terço, é, ainda, o que foi assentado sob a administração pesssoal do caudilho, cujo fura-bolos, sob a esmeralda simbólica do sedare dolorem, se havia calejado no gatilho da Winchester. Fuzilou, sumariamente, dezenas de facínoras que infestavam o imenso arraial católico, e aos quais obrigava a trabalhar rudemente, em turmas sob a sua impiedosa fiscalização. Construiu e inaugurou a grande praça central da cidade, otimamente urbanizada, e toda pavimentada a quadriláteros de pedra, com um monumento ao Padre Cícero e elegante torre com relógio.
Sob os auspícios do governo Artur Bernardes, improvisou, em 1926, um batalhão patriótico(!), integrado pela fina flor dos suspeitíssimos, heterogêneos elementos anteriormente utilizados contra o governo legal de Franco Rabelo, batalhão que deveria empregar na perseguição à “coluna Prestes”, a esse tempo já atingindo a periferia cearense.
Escreve M. DINIZ, no seu movimentado, interessantíssimo livro, Mistérios do Joazeiro, já citado:
“O dr. Floro que sempre apreciou os elementos do terrorismo, mandou uma carta a Lampião, chamando-o a esta cidade, para incorporar-se aos Patriotas. O advogado José Ferreira de Menezes foi o portador da carta, de Campos Sales a esta cidade, onde havia um irmão do legendário bandoleiro, que conduziu-a em companhia de um dos tenentes dos Patriotas. Aproximou-se Lampião, dirigindo-se a esta cidade, quando o Dr. Floro, ou por já terem passado os revoltosos, ou por ter chegado o tenente coronel Polidoro Coelho, com quem dizem teve forte alteração, passou a José Ferreira o seguinte telegrama: - “Comunique não é mais preciso Lampião. Povo já seguiu em perseguição a revoltosos”. Tal telegrama tem a data de 22 de janeiro de 1926, e parece-me autêntico, porque, efetivamente, Lampião aqui chegou, depois de 8 de fevereiro, quando o dr. Floro já tinha partido para o Rio. Lampião não incorporou-se aos Patiotas, mas esteve nesta cidade. Não foi nomeado capitão, como dizem,mas consta que Uchoa (empregado no Ministério da Agricultura, e sem atribuição para tanto) nomeou-o capitão, para contentá-lo, pois ele exigia do Padre Cícero o cumprimento da promessa que lhe fora feita na carta que lhe remetera especialmente o Dr. Floro, que no Rio achava-se bem longe da tal embrulhada que deixara. Lampião regeressou daqui, fardado de capitão, em companhia de seus 49 soldados devidamente uniformizados”.

LEONARDO MOTA, em seu fascinante livro, No Tempo de Lampião, conta minuciosamente o caso, reproduzindo o depoimento de Pedro Albuquerque Uchoa, “um velho agrônomo que, àquele tempo, exercia na Meca sertaneja do Ceará as funções do cargo de inspetor agrícola”. Segundo essa confissão, feita de viva voz ao saudoso folclorista, foi Uchoa quem, sob ditado do Padre Cícero, redigiu a famosa, inacreditável “patente”ao bandido, “em nome do governo da República” (sic)."

(in "SERTÃO DE ESPINHO E DE FLOR", de Othoniel Menezes - no prelo a segunda edição, inserta nas suas obras completas)


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