segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

IPSIS LITTERIS...


"História


(Luiz Gonzaga Cortez)

Cascudo apoiou o regime militar

A revista Continente Multicultural (Documento), editada pelo Governo do Estado de Pernambuco, publicou em agosto de 2006, uma edição especial sobre Luís da Câmara Cascudo, tratando da vida e a obra do maior folclorista do Rio Grande do Norte. Uma edição belíssima com 46 páginas, com ensaios escritor por três professores da UFRN.
A revista tem uma edição impecável, textos agradáveis e concisos, sem os “rames rames” e elucubrações muitos comuns nos sítios acadêmicos do país. A publicação traz dois textos que registram a participação de Cascudo na Ação Integralista Brasileira, entre 1933/1937, as suas posições políticas conservadoras e a sua adesão ao regime militar instaurado em abril de 1964.
Aqui, no tocante ao apoio aos militares, é necessário reparos ao texto intitulado “O conservadorismo político” (p.18), onde o autor escreveu o seguinte: “É verdade que Cascudo não se manifestou explicitamente a favor do regime militar, mas no clima dos anos 70/80, para a esquerda e para aqueles que faziam parte da frente de redemocratização do país, aceitar, com a satisfação com que Cascudo aceitava, os agrados dos militares no poder, era algo imperdoável”. Não, quem assistiu e/ou tomou conhecimento de alguns acontecimentos pós-abril de 64, em Natal, quem freqüentou a Praça das Cocadas, no Grande Ponto, sabe muito bem que Luís da Câmara Cascudo se manifestou, explicita e publicamente, diversas vezes a favor do regime militar, em 1964, 1965 e anos seguintes.
A esquerda natalense sabia disso, desde os primeiros meses da implantação do regime discricionário. Cascudo cortejou e foi cortejado. Cascudo apoiou a campanha de arrecadação de ”ouro para o bem do Brasil”, comandada pelo jornalista Assis Chateaubriand, através da cadeia de jornais e rádios Associados, que, em Natal, teve a instalação festiva em pleno centro da cidade, num palanque armado na frente do prédio onde funcionou o antigo Hotel Ducal.Cascudo discursou na solenidade (ou estou equivocado?) No dia 27 de novembro de1966, o Instituto Histórico e Geográfico do RN, comemorou o aniversário da “Intentona Comunista” de 1935 com uma conferência do general Antonio Carlos da Silva Muricy sobre “A guerra revolucionária no Brasil e o Episódio de Novembro de 1935”.
A homenagem do IHG foi salientada pelo presidente da entidade, Enélio Lima Petrovich, pelo fato do general Muricy ter sido o autor, em 1963, da primeira insurgência pública “e em documento assinado, contra a agitação subversiva nos campos do Rio Grande do Norte”.A saudação oficial foi de Luís da Câmara Cascudo, de improviso e está gravada, conforme informa a plaquete editada pelo Departamento de Imprensa do Estado.
O general foi recebido com honras da tradicional casa de cultura, tornando-se, na ocasião, sócio honorário concedido na sessão de 9 de maio de 1964. Eu estava lá, levado pelos meus pais, ex-integralistas como Cascudo. E quem saudou o general? Foi Cascudo. O IHG publicou uma plaquete com a palestra do general e a saudação do maior intelectual potiguar ao homem forte do novo regime.No dia 9 de agosto de 1973, na fase mais dura do regime militar, Cascudo discursou de improviso, como sempre o fez, no Salão Vermelho do Hotel Nacional de Brasília, para um seleto público e as maiores autoridades militares e civis da capital da República. Motivo: Cascudo recebia, na ocasião, o Prêmio “Henning Albert Boilesen” e fascinou, segundo uma testemunha feminina, as personalidades ali presentes, como o Almirante Hamann Rademacker Grünewald, Vice-Presidente da República, senador Jarbas Passarinho, Ministro da Educação e Cultura e o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, chefe do gabinete militar da Presidência da República.Boilesen, rico e poderoso empresário, dono do Grupo Ultra, teria sido um dos maiores financiadores da repressão policial aos comunistas que aderiram à luta armada contra a ditadura. Há ex-presos políticos que dizem que Boilesen fiscalizava as instalações do DOI-CODI e da Polícia Civil de São Paulo, onde se torturavam os presos políticos, para verificar a aplicação dos recursos financeiros que angariava nos meios empresariais.
Nada demais para o “papa da cultura potiguar”, um homem da direita suave, que apoiou o regime militar assim como milhares de brasileiros apoiaram a derrubada do presidente João Goulart por causa do temor ao comunismo.
Em Natal, apoiaram o golpe militar o governador Aluízio Alves, Dinarte Mariz, a Igreja, os evangélicos, maçonaria, empresários, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, agricultores, jornalistas (dos militares, a categoria recebeu um terreno para a sua sede, na rua Felipe Camarão, Centro). Quer mais? Pára, pára.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador"

(Do blogue do Jornalista Carlos Santos)

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