Gravura/Web
"CANIS LUPUS PAROQUIANUS..."
Armado de ambição e de fereza,
Só receia encontrar na redondeza,
Lobo maior, de compleição mais bruta.
A lã, de que se veste, lhe transmuta,
aos olhos do rebanho, a natureza.
- Pulsa-lhe o instinto, na pupila acesa !
Aspira os ventos, a narina astuta...
Não janta bem, aliás, se não devora
dois cordeiros, na furna, convencido
de ser o rei-dos-lobos, dentro e fora.
Todavia, não cuida de uma cousa:
- que, entre os irmãos, acabará comido,
se não aprender as artes da raposa...
Othoniel Menezes
(in “Desenho Animado”, póstumo-1995)
"Caro Laélio e demais amigos:
Ligue não, Laélio; é assim mermo! Alguns dos que fazem poesia (?) concreta, moderna, versos livres, sem rima; deveriam ler o poema UM COLEGA DOTÔ, de Clarindo Batista de Araujo, seridoense de quatro costados e de altíssimo quilate, diga-se de passagem. Nele, Clarindo diz p'ro dotô:A poesia do sertão,tem chêro de muçambê.Pru gôsto se pode lê,um verso metrificado.O poeta sertanejo,compara verso sem rima,cum viola sem a prima,só dá tom desafinado.Nos seus cultos versos brancos,o sinhô fala in rinite,cita diverticulite;êsses nome assim bizarro.Aqui a agente cunhece,sete côro, nó na tripa,ô intonce, quando gripa,se diz qui tá cum catarro.Tombém fala de metrô,satélite artificiá,de carro qui anda no má,qui nem pru riba do chão.Eu digo no meu poema,qui a vantage num é tanta,qui aqui tem carro qui canta,pelas bôca do cocão.E falando de animá,vem logo rinoceronte,mamute, saiga, bisonte,alce, iaque, pangolim.Nuis meus poema se vê,rapôsa, peba, timbú,preá, mocó e tatú,jumento, boi e guaxiníin...Não tenho absolutamente nada contra quem faz o verso livre; tenho sim; contra quem não respeita o estilo dos outros. Tem que respeitar, mesmo que esse estilo seja carregado de "passadismo literário"...Agora eu pergunto, caro Laélio; a quem de direito; isso é "passadismo literário" ou preservação das nossas raízes culturais ?Na minha terra, às margens do Rio Potengi, que banha minha cidade, isso que foi dito contra a poesia de Otoniel, tem outro nome, que é dado à atitude de quem agride à memória de quem já não está aqui para se defender...Perdoe-me a indignação, mas não posso ficar calado...Inspiração limitada, como diz meu compadre Norbal, cortador de carne na feira do Conjunto Santa Catarina; " é meu treistíco isquerdo"!...Inté!
Bob Motta"
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