sábado, 9 de dezembro de 2006

O PRIMEIRO AVIADOR


UMA RUA EM PARNAMIRIM

- Sargento Menezes, pioneiro e mártir, o primeiro Aviador do Rio Grande do Norte



Laélio Ferreira de Melo,

Ex-repórter, poeta, pesquisador













O Sargento Menezes em 1919 - primeiro da direita (Arquivo/Laélio)





Começando ali na Estação Ferroviária, quieta, sem bulício, está, existe, desde o tempo dos americanos, uma rua.“Sargento Menezes” é o seu nome. Raríssimas pessoas sabem, tanto ontem quanto hoje, quem foi o Piloto-Aviador JOÃO MENEZES DE MELO (1896-1920). Era natalense da gema, batizado em Nova Cruz. Filho do Capitão João Felismino Ribeiro Dantas de Melo (do Ceará-Mirim) e de Da. Maria Clementina Menezes de Melo (de Canguaretama). Desde 1927 é nome de hangar no Campo dos Afonsos (RJ) e no Campo de Marte (SP.). Um ano depois do seu sacrifício, em 1920, era (e é) rua em Bento Ribeiro, bairro carioca onde Ronaldinho nasceu e aprendeu a jogar bola.

Somente há uns três ou quatro anos, decorridos oitenta, Natal, seu berço, sua terra, lembrou-lhe o nome para uma rua de periferia, nos cafundós-do-judas. Isso depois, parece, de um puxão de orelhas muito bem dado por Luiz G.M.Bezerra! Deixemos para lá a deslembrança do povo da Cidade dos Reis Magos...Entretanto sobre um fato incontestável é bom, aqui, se dar notícia: no Estado, foi o povo de Parnamirim e os colegas aviadores do Sargento Menezes, na maioria “gente de fora” – como se dizia -, que antes, muito antes daqueles da capital, com clara primazia homenagearam o herói esquecido, pioneiro e mártir da Aviação Militar Brasileira.Câmara Cascudo, dois anos mais novo (1898-1986), dizia-no “curumiaçu do meu lote” (leia-se “rapaz do meu tempo, da minha patota”), recordando-lhe “o espírito esfuziante, comunicativo, original”. Alistado no Exército, em Natal, setembro de 1914, já de outubro a novembro, recruta ainda, prestou, como soldado de infantaria, “serviços de guerra” no Ceará, combatendo os jagunços do Padre Cícero do Juazeiro, comandados por Floro Bartolomeu - político metade-médico, metade-cangaceiro.

Transferido, em 1915, para o 3º Regimento de Infantaria, no Rio. Garboso 3º. Sargento, em fevereiro de 1920 era aluno da 2ª. Turma da Escola de Aviação Militar, sediada no legendário Campo dos Afonsos. A Primeira, formada apenas por oficiais (12 capitães e tenentes), concluíra o curso em 22 de janeiro. Apenas dois desses chegariam, mais tarde, a oficiais-generais: Henrique R.D.Fontenelle e Ivan Carpenter Ferreira.Essa 2ª.Turma do Sargento Menezes era formada por dois tenentes, três oficiais uruguaios, onze sargentos, um cabo e um soldado. Ao generalato chegariam o uruguaio Tydeo Larre Borges – o maior herói da aviação platina – e os sargentos Rodolpho Prates e Raul Dinoá Costa, do Exército Brasileiro. Entre todos, Menezes foi o primeiro a solar (voar só, sem instrutor), o primeiro a receber o brevê internacional do Aeroclube da França e o primeiro a concluir o curso de Piloto-Aviador Militar. Alegre, esportista (remador do Flamengo), elegante, fazia sucesso com as mulheres e era considerado por colegas e superiores como o melhor piloto do curso. Um indivíduo competente, uma “cobra criada” ! –dir-se-ia hoje.

Voando na manhã de 29 de setembro de 1920, notou um defeito no motor do caça “Nieuport”. Pousou para comunicar a ameaça de pane ao instrutor da Missão Militar Francesa, Cap. Etienne Lafay. Além de não atendê-lo na requisição de outro aparelho para a manobra do “parafuso” (piruetas complicadas, desligando o motor, planando e religando) o francês, que não se dava bem com o Sargento, fê-lo de maneira sarcástica.
Tomando a atitude do superior como uma ofensa ao seu brio - e não atendendo aos apelos dos colegas que lhe advertiam, nervosos, para o extremo perigo que correria - voltou ao avião, subiu, fez o que era para ser feito e... caiu! Falhara-lhe o motor ! Não havia pára-quedas, na época; tampouco condições de pouso de emergência. Antes de o avião espatifar-se nas cercanias da estação de trens de Marechal Hermes, livrando-se dos cintos, saltou, livre e só, para a morte. Tombou perto de um campo de futebol, no início da Rua Gravatá. Era solteiro, bonito e tinha só 24 anos de idade. Descansa na “Cripta dos Aviadores” do Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Era o “Tio Joãosinho”, que não conheci - irmão do meu pai e também Poeta.



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