terça-feira, 26 de dezembro de 2006

COMO SEMPRE ACONTECE NA JERIMUNLÂNDIA...

O VALENTE E ESQUECIDO DOM PERO MENDES DE GOUVEIA

Foto Arquivo/Cláudio Galvão


A FORTALEZA DOS REIS MAGOS


Antônio Soares





Largas muralhas, rijas e pesadas,


Batidas pelo mar e pelo sol,


Sustendo, sob abóbadas e arcadas,


A branca e esguia torre do farol.




No abandono, sem armas nem paiol,


O Forte - lutador de eras passadas -


Vê desfilar, das vagas no lençol,


O pacato cortejo das jangadas.




Em segredo conserva o poema antigo


Das guerras holandesas, das batalhas


Sustentadas com o bátavo inimigo...




Vezes, porém, parece que se alteia,


Perdida no silêncio das muralhas,


A voz de Pedro Mendes de Gouveia...




(in Lira de Poti, capa acima)





O VALENTE CAPITÃO DA FORTALEZA

(O trecho abaixo está contido no livro do Escritor HÉLIO GALVÃO, - obra definitiva - "HISTÓRIA DA FORTALEZA DA BARRA DO RIO GRANDE" - MEC/1979)



"A 11 o Tenente-Coronel Bima dirigiu mensagem ao Capitão-mor Pero Mendes de Gouveia, intimando-o à rendição: dispunha de força suficiente para tomar a praça, mas lhe oferecia aquela oportunidade de entregá-la desde logo. Pero Mendes, bravo e fiel, estando sobre as muralhas, foi atingido por estilhaços no sábado e ficara graveemente ferido. 17 Sua resposta à intimação é conhecida pela cópia do redator do Diário da Jornada, o que lhe garante autenticidade. Documento de alta nobreza e rara coraagem, mas circunstâncias emergentes:


"Estou bem certo das boas disposições e cortesia de V. Exa., como bom soldado que é, em todos os assuntos e principalmente nos negócios da guerra. Mas V. Exa. deve saber que este forte foi confiado à minha guarda por S.M. Católica, e só a ela ou a alguém de sua ordem o posso entregar e a mais ninguém, preferindo perrder mil vidas a fazê-Io, e do mesmo espírito se acham animados todos os meus companheiros, achando-nos bem providos de todo o necessário. Pero Mendes de Gouveia".18


Enquanto o capitão-mor estava em sua cama, ardendo em febre, pessoas estraanhas ao comando da Fortaleza consertavam a rendição: "e às nove horas da noite do dia 11 abriram as portas e escreveram ao inimigo". Na manhã de 12 a bandeira branca da capitulação apareceu sobre a muralha. Essas pessoas estranhas, eram: Sargento Sebasstião Pinheiro Coêlho, foragido de uma prisão da Bahia; Simão Pita Ortigueira, preso na Fortaleza, condenado à morte; Domingos Femandes Calabar, que viera na expedição.


Levou um tambor e uma carta. Porque não estivesse assinado pelo Capitão Gouveia, o Tenente-coronel Baltasar Bima prudentemente a recusou. Mas logo se esclareceu que a carta traduzia o pensamento dos que agora estavam responsáveis pela praça, enfermo o seu comandante, os quais se comprometiam a entregá-Ia. Estes fatos ocorriam a bordo de um dos navios. Regressaram então ao forte, vindo como refém do invasor o Capitão Frederico Maulpas: vieram"à terra Keulen e Carpentier para, de perto, melhor controlar a situação. Pouco depois estava firmada a capitulação: os soldados se retirariam com suas armas e bagagens, sendo-Ihes assegurado transporte para onde quisessem, e o forte seria entregue com todo o armamento.


Propôs-se de volta um aditamento: permissão para que o capitão- mor e o proveedor-mor Pero Vaz Pinto permanecessem por seis dias na Fortaleza, podendo ir e vir, e que, ao se retirarem, pudessem conduzir criados, bagagens, prata, dinheiro e armas. Pediu-se também a liberdade de Simão Pita Ortigueira e entrega da bandeira. Tudo atendido, menos a bandeira e a permissão de livre locomoção do capitão-mor e do proovedor-mor os seis dias. E ainda, por fim, esta ressalva:
"Declaro que este contrato é feito por todos os oficiais e soldaados do forte, porquanto o capitão-mor jaz demasiado gravemente ferido. Sebastião Pinheiro Coelho". 19


Subiu no mastro o pavilhão do Príncipe de Orange. Lichthard, Keulen e Bima vão visitar em seus aposentos o honrado comandante ferido.

O condestável teve arrancado um braço e o capitão-mor não tinha recebido neenhum curativo. Havia outros feridos. Veio de bordo um dos cirurgiões, Dr. Nicolau, que fez o devido tratamento.
Ciente do que ocorria, protestou Pero Mendes, alegando que as chaves tinham sido retiradas de sua cabeceira, em momento de febre. Apesar da insuficiência numéérica das forças sob seu comando, mas dispondo de munição bastante, Pero Mendes tinha o deliberado propósito de resistir. Ao menos para ganhar tempo, pois sabia que não demorava o socorro que pedira à Paraíba, de acordo com as instruções recebidas.

De posse das informações indispensáveis sobre o potencial inimigo, tinha mandado avisar a Matias de Albuquerque e ao Conde de Bagnolo. Chegou à tarde o portador da mensagem, e logo à noite saíram em seu auxílio o Sargento-mor Antônio de Madureira Trigo, com 350 homens, os capitães da Fortaleza de Cabedelo, Gaspar de Valcacer e Domingos de Arriaga e os Capitães Cosme da Rocha, André de MeIo e Albuquerque, Rui Calaza Borges Serpa e Miguel Padilha, cada um com uma Companhia de 200 homens, força suficiente para defrontar a armada atacante, ultrapassando-a em númeero, somada ao efetivo existente.2o Este substancial reforço, porém, resultou inútil diante do fato consumado. O próprio General Bagnolo, que logo ao amanhecer se fizera ao mar em demanda do teatro de operações, voltou do meio do caminho: a guarnição se havia rendido. O Capitão Madureira velejou para a barra do Cunhaú, recolhendo ao engenho algumas pessoas e bastante gado, "e com os seus volveu à Paraíba".

Depois de três dias, Pero Mendes foi levado a Recife no Den Phenix, confortaavelmente hospedado no camarote do Capitão Smient."








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