sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

TETRAPHARMAKON...

Gravura/Web



In verbis et ipsis litteris:


"De:
"pablo capistrano"
Data:
Wed, 20 Apr 2005 13:01:08 -0300 (ART)
Assunto:
[becodalama] para Seu laélio


oi Seu laélio.
estava com sentindo falta das suas intervenções.
o Sr. escreve apenas poesias ou faz também revisão de português?
tem uns alunos do último ano de direito que estão para fazer trabalho de conclusão de curso e estão a fim de um revisor.
disponibilize seu telefone para contatos.
um grande abraço do amigo pablo capistrano.

liberdade, amizade e reflxão!"


DEU MOTES E GLOSAS:


“Muito acima das sandálias”
- lembrei-me de Plínio e Apeles


No tempo das minerválias
ouvi frase de valor:
ne supra crepidam, sutor:
“muito acima das sandálias” !
No jardim vou colher dálias,
beber coco-das-seicheles ?
Cordeiros vestindo peles
de raposas ardilosas ?
- Mais tarde, respondo às prosas,
lembrei-me de Plínio e Apeles !



Faço revisão geral
no traseiro das alunas

No revisar, liberal,
só cuido das quintanistas:
na bundinha das artistas
faço revisão geral !
Seja o correio-geral
nesta cidade entre as dunas,
mande consultar às runas
- verá que sou um portento,
um verdadeiro jumento
no traseiro das alunas !

Laélio/2005

TEM MAIS:

Dunga, meu bom.
Como sempre, Sarava pra Vossa Mercê!

Tudo explicado, dear President – relativamente à minha postagem (que aí abaixo está, em segunda via).

De antemão, volto a afirmar que nada tenho de pessoal contra o Pablo – que me informaram ser uma pessoa doce, amena. O que me incomoda é que, como você mesmo reconhece, ele, como professor, filósofo, metafísico e escritor – principalmente nesta última condição – não pode e não deve ser descuidado no ofício de escrever. Há de tomar tenência e refrear o “ímpeto da hora e do enviar”, pecado que você tão bem comentou.
Desse jeito que está, vai depender, o resto da vida, de um bom copidesque (e você o é)!
- “Quem pariu Mateu que crie, dura lex sed lex” – dizia minha Vó Celsa. Assino em baixo.
Creio que as cutucadas no rapaz – querendo ele - serão benéficas, sinalizadoras para quem quer chegar às livrarias do Brasil e do mundo (ele que confessa não ter lido embora tenha escrito sobre o “Código Da Vinci”)...
Pode notar quem quiser, Pablo, no meu modesto ver, tem futuro mas ainda complica muito, produz mais do que sabiá no fundo da gaiola...
Para dar uma puxada no competente e bom Nei Leandro (sem falar no artigo anterior sobre atonalismo e rap), passeia meio tonto, atabalhoadamente, por Palumbo, marxismo europeu, Londres nordestina, foi na Redinha, atravessou o Atlântico com Del Prete e Ferrarin, voltou a Parnamirim Field, foi a Tebas, deu um alô para Dedé (Édipo), viu a esfinge, pegou uma “sopa” (bus) e... flagrou os americanos de jean’s blue em plena Segunda Guerra!
Abraço,
Laélio

P.S.: Vossa Mercê tem razão: as famosas calças “Lee” (as fábricas, agora, estão na China) chegaram a Natal depois das nacionais “Faroeste”, da Alpargatas. Nasci em 1939, papai trabalhava em Parnamirim e eu ia quase toda a semana por lá. Natal vivia cheia deles, os "galegos", os "gringos". Nunca os vi de jeans, só andavam fardados de caqui (cor da USAF). Raramente à paisana com as tais sileques. Essas, sim, deixaram moda com os rapazes do Grande Ponto. O que eles, americanos, deixaram , mesmo, foi um grande cemitério de cabaços...




"PÉ QUEBRADO" NO MEIO DA CANELA...

Gravura/Web


POBRE LUÍS...

Precatem-se os sonetistas
- ando lendo os pés-quebrados

Moura-torta dos puristas
anda solta pelo Beco...
Digo curto, grosso e seco:
- Precatem-se os sonetistas !
Modernos, parnasianistas,
- sejam quais forem os seus brados -
é muito bom ter cuidados
com a métrica e as rimas:
- entre algumas “obras primas”
ando lendo os pés quebrados "


Laélio/2005


O ENIGMA DA CACHOPA...

Gravura/Web

NEI LEANDRO EM PORTUGAL

“Laélio.

Mello e Castro me apresentou a Natália Correia, que na época teria uns 45 anos. Poeta, ensaísta, Natália fazia oposição ao salazarismo e por isso esteve nos porões da Pide. Sua antologia Poesia Portuguesa Erótica e Satírica foi censurada pela ditadura. De temperamento forte, era de uma ternura imensa como amiga. Numa noite – oh, se lembro, e quanto! – depois de umas taças de vinho, ela pegou as minhas mãos e disse com aquele acento lusitano que acho lindo: “Eu quase diria que te amo. Mas eu mesma não acreditaria, sabes?” Até hoje procuro decifrar o enigma daquelas palavras.
Um abraço,
Nei (Leandro de Castro)”

DEU MOTE E GLOSA:



Da doce Natália o enigma
Nei Leandro decifrou


Em Lisboa sob o estigma
das lonjuras do exílio
encontrou no domicílio
da doce Natália o enigma.
Da pobreza paradigma
vinho de tasca entornou...
Entretanto, um dia, achou,
no seu caminho a cachopa
e dela tirando a roupa
Nei Leandro “decifrou” !



Laélio/2005

Foto/Web

FUNK E METAFÍSICA

"Sou 157
Racionais Mc's
Composição: Racionais Mc's
Racionais MC's

EU SOU 157

Hoje eu sou ladrão, artigo 157,As cachorra me ama,Os playboy se derrete,Hoje eu sou ladrão, artigo 157,A policia bola um plano,Sou herói dos pivete,Uma pá de bico cresce o zóio,Quando eu chego,Zé povinho é foda,How,Né não nego?!Eu tô de mal com o mundo,Terça-feira à tarde,Já fumei um,Ligeiro c'os covarde,Eu só confio em mim,Mais ninguém,Cê me entende,Fala gíria bem,Até papagaio aprende..."

Márcia (Maia), minha poeta do Recife.

Pra você ver, menina, pra você ver: mais uma prova de que sou néscio, absolutamente ignorante – um imbecil em matéria de rap e funk!

Andei, certa feita, no Google, pesquisando “letras” dessa modernidade americanalhada para tentar refutar – sem nenhuma sucesso, reconheço – uma analogia infeliz do seu guru Pablo Capistrano, que ao meu ver, vez por outra, mistura (êpa!) solenemente as coisas (êpa, de novo!).

Por falar no metafísico, nesses dias, com essa admiração toda que lhe dedicam - e o endeusam, até, noto -, vai o dito cujo nublar a fama do Paulo Coelho e parar na Academia, morar nas Oropa...

No Rio, sempre hospedado na Tijuca, me vem, do morro, principalmente aos sábados, os “eflúvios” do que me dizem os porteiros do edifício ser ora o rap, ora o funk – tudo, tudo, patrocinado pelos “donos do morro” (leia-se chefes locais do tráfico).

O “157” de que falei é um primor de “letra”, um sucesso no meio (veja um "pedacinho", acima). Inconcebível, por outro lado, acho eu, para quem tem um mínimo de equilíbrio e sensibilidade artística, civilidade, bom senso, juízo.

“157”, para governo e tenência de quem não sabe, é o artigo do Código Penal vigente que qualifica o agente ativo que pratica o muito violento crime de assalto à mão armada. E dá rap, veja só Márcia, dá rap, repito!

Fique fria, menina. Tenho certeza que o rap, o funk e as analogias louvaminheiras do Pablo à essa exdrúxula forma de “arte” não a farão, nunca, deixar de ser a grande poeta que é!
Cheiro nos “óio”,
Laélio Ferreira



Lá vem Pablo, funk e rap
- se mexer eu pulo dentro


Na minha vida esse estrepe
de novo me funde a cuca...
Essa discussão maluca
- lá vem Pablo, funk e rap !
Chega Márcia, serelepe,
me coloca no epicentro
e eu, obrigado, adentro
- sou um grande bedamerda
nesse caldeirão de merda
se mexer eu pulo dentro !


Laélio/2005

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

O HOMEM QUE INVENTOU ZÉ LIMEIRA...

Foto/Web
ORLANDO TEJO E O AGIOTA





Luiz Berto (*)



Era manhã de segunda-feira e Orlando Tejo invadiu minha sala num
aperreio que não era de seu costume.
- Berto, tô encalacrado.
Não sei se vocês sabem, mas Orlando Tejo é o sujeito mais calmo e
descansado desse mundo, incapaz de se aperrear até dentro de uma casa em
chamas. Mas naquela manhã, o homem estava mais agoniado do que bacorinho
em caçuá.
A tranqüilidade habitual, emoldurada pelas serenas baforadas no
cachimbo, fora substituída por um avexamento que, francamente, deixou-me
curioso. E largou o seu problema sem mais demoras:
- É o seguinte: o novo gerente da Caixa Econômica é meu leitor e se
tornou meu amigo. Assumiu a agência e me deu um cheque especial na
sexta-feira. Resultado: já estourei o limite em trinta mil cruzeiros neste
fim-de-semana.
Conhecedor da total inabilidade de Orlando para gerir suas finanças,
para mim não foi surpresa o estouro no limite do cheque especial.
Surpreendente era a velocidade com que isso se dera. Recebera o cheque na
sexta-feira e na segunda já estava pendurado. Em verdade, suas habilidades
aritméticas limitavam-se à soma das mais alegres lembranças, à subtração
de
tristezas, à multiplicação da imensa legião de amigos e à divisão de uma
ternura e de um lirismo que só mesmo pessoas encantadas como Tejo estão
autorizadas a ter.
Expliquei-lhe que estava duro e não poderia ajudá-lo no momento.
Estava sendo tão franco quanto, com a mesma franqueza, lhe arranjaria
imediatamente a miserável quantia, caso a tivesse, para não vê-lo naquele
sufoco. Funcionário público só vê a cor do dinheiro no fim do mês e, por
infelicidade, estávamos ainda no início da segunda quinzena. Tentei
explicar-lhe isso com tranqüilidade, mas ele parecia insensível a qualquer
argumento.
- Mas eu não posso é ficar desmoralizado perante o gerente, que é
meu conterrâneo da Paraíba e me deu o cheque especial em confiança, por amor aos
meus escritos. Um admirador, em resumo. Vai ser muito chato...
Expliquei-lhe que pessoalmente não podia fazer nada. Mas lembrei-lhe
que, como em toda boa repartição pública, a Câmara tinha o seu agiota de
plantão para socorrer os desesperados naquelas precisões agoniosas. O anjo
da guarda dos necessitados, acudidor de precisões prementes, tão
injustamente malhado pelas pessoas gradas, mas capaz de salvar um vivente
de
um sufoco sem fazer fichas, preencher cadastros, telefonar para o SPC ou
exigir promissórias registradas em cartório. E dei a indicação ao Tejo:
- É só você procurar o Canindé.
Meu amigo João Canindé Tolentino Ribeiro entrou nessa história como
Pilatos entrou no Credo. Tão lascado quanto qualquer um de nós, apenas
estabelecia o contato entre o agiota e os possíveis fregueses, não
ganhando nada com isso, salvo o fato de se beneficiar com um juro mais baixo quando
também precisasse de dinheiro. Orlando Tejo não sabia quem era Canindé,
mas já tratou-o com uma familiaridade que era bem do seu estilo.
- Então ligue logo para esse filho-da-puta desse Canindé, e diga que
eu preciso de trinta.
Liguei para Canindé e ele disse que só poderia dar a resposta de
tarde. Estávamos ainda no começo da manhã. Tejo não gostou mas teve que se
conformar e, logo após o almoço, já estava de novo na minha sala à espera
de notícias. Francamente, nunca lhe vira tão agoniado.
- Ligue logo para esse filho de uma égua, pelo amor de Deus.
Canindé mandou dizer que, se o dinheiro saísse, só sairia no dia
seguinte. terça-feira. Transmiti o recado ao Tejo e ele desesperou-se.
- Explique a esse filho-da-puta que desse jeito vai ser tarde
demais. Os cheques que emiti devem entrar hoje à noite.
Desolado com o drama do meu amigo, acompanhei com o olhar a sua
saída nervosa, pitando furiosamente o cachimbo e maldizendo a sorte. A aura de
lirismo que marcava sempre sua figura estava seriamente arranhada pela
agonia que transpirava dos seus poros. Pobre Tejo, necessitado de trinta
neste vasto mundão de meu Deus e ninguém para acudi-lo...
No dia seguinte, quando cheguei à minha sala, já o encontrei de
plantão, sorrindo, esperançoso.
- Acabei de me informar no banco: nenhum cheque entrou ainda. Ligue
logo para esse miserável desse Canindé.
Liguei. Canindé informou que só à tarde. Transmiti a informação ao
Tejo.
- Assim não dá! Esse filho-da-puta quer me matar.
Na primeira hora da tarde volta Tejo avexado.
- Ainda não entrou cheque nenhum. Ligue de novo.
Liguei e Canindé disse para ligar dai a meia hora. Transmiti a
informação. Tejo deu uma puxada no cachimbo e caminhou um pouco pela sala
sem falar nada. Ficou de costas para mim, olhando um ponto indefinido na
parede em frente. Sentou-se numa poltrona.
E, então, baixou o santo: Tejo ficou calmo de repente, me pediu uma
folha de papel e começou a rabiscar. Eu acompanhava com um rabo-de-olho e
procurava não perturbar, pois sabia que ele estava em pleno processo de
criação. A mão corria devagar pelo papel e, de vez em quando, ele fazia
pequenas pausas como se estivesse conferindo o que já havia escrito.
Estava tranqüilo e era outro homem, bem diferente daquele que há poucos instantes
necessitava desesperadamente de trinta.
Levantou-se e me passou umas folhas naquela sua caligrafia miserável
que eu já estava habituado a decifrar. A letra de Tejo, qual moderna Pedra
da Roseta, exige as habilidades de um novo Champollion para trazê-la ao
entendimento dos mortais comuns. Comecei a ler e me dei conta da
preciosidade que tinha em mãos. Aquilo, realmente, era uma obra de Tejo e
ali estava o seu espírito paraibano, nordestino, poético, moleque,
imprevisível por inteiro. Dar uma trégua ao aperreio para parir um negócio
daqueles, só mesmo vindo dele.
Para se entender o acontecido, vale ressaltar que a história se
passava na Câmara dos Deputados, cujo presidente, à época, era o Deputado
Flávio Marcílio e que Delfim Netto era o então Ministro da Fazenda. Um
tempo tão da porra que ninguém jamais será capaz de esquecer... Vou transcrever
do jeito que ele me deu:



LOUVAÇÃO A CANINDÉ


Estando sem um tostão
E me encontrando bem perto,
Fui procurar Luiz Berto
Berto disse: "Meu irmão,
Eu também queria até
Fazer um querrequequé
Daquele que o diabo pinta
Para ver se arranco trinta
Do bolso de Canindé.

E toca a telefonar
E Canindé a correr,
Mas não pôde se esconder
E teve que tapear:
"Pela manhã não vai dar,
Porque de tarde é que é
Bom para a coisa dar pé.
Aguarde, portanto, amigo".
Berto ficou de castigo
Esperando Canindé.

E eu que necessitava
Também da mesma quantia
Me fiei nessa franquia
Que Canindé propalava
Quando eu menos esperava
O safado, de má fé,
Filho de puta ralé,
Disse que hoje não tem nada...
Ah! uma foice amolada
No chifre de Canindé.

Eu já podia notar
E mudar de interesse
Que um cabra com um nome desse
Não poderia prestar.
Entretanto, vou esperar
Até amanhã com fé.
Se ele me deixar a pé,
Juro por Nossa Senhora:
Corto de pau uma tora
E vou matar Canindé.

O cabra fuma e não traga
Faz do crime o seu idílio!
Onde está Flávio Marcílio
Que não demite esta praga?
Ao menos dava-se a vaga
Pra um sujeito de fé,
Já que esse indivíduo é
Um tratante e delinqüente
Haja chumbo grosso e quente
No rabo de Canindé.

Por capricho do destino
De Satanás ou Deus Brama,
O bicho também se chama
Coisa e tal e Tolentino,
Doido, avarento e mofino,
Não conhece a Santa Sé,
Faz da cola o seu rapé,
Vive da desgraça alheia,
Devia estar na cadeia
Esse tal de Canindé.

Não sei como Luiz Berto
Este escritor inspirado,
Toma dinheiro emprestado
A um ladrão tão esperto,
Que representa um deserto
De trabalho, amor e fé,
Que anda de marcha ré
Pela estrada da virtude
E além de covarde e rude
Se assina por Canindé.

Antes quero outro "pacote"
Desemprego, moratória,
Ver Delfim contar história,
Comer carne de caçote,
Levar chumbo no cangote,
Me abraçar com jacaré,
Beber caldo de chulé,
Dar o rabo a marinheiro,
Do que tomar um cruzeiro
Emprestado a Canindé.


Corri para a máquina de escrever a fim de botar em letra de forma a
tradução dos garranchos e, quando comecei a datilografar, o telefone
tocou. Fiquei incomodado com o toque da campainha. Atendi a contragosto , com a
esperança de que a conversa fosse breve. Era o Canindé.
- Diga ao seu amigo que o dinheiro saiu. Pode vir apanhar.
Ai eu ri gostoso! Depois daquela "louvação", eu queria ver qual a
reação do meu amigo diante da liberação do dinheiro. Acabaram-se os
aperreios. O mundo voltava ao normal e tornava a correr nos eixos. Dei a
notícia ao Tejo e ele me olhou morrendo de alegria. Parecia um menino.
- Saiu? Então me dê ai outro papel que eu vou escrever de novo.
Mandei alguém ir buscar o dinheiro enquanto Tejo se ajeitava num
canto
e começava a escrever novamente. Parece que a boa noticia fazia-o escrever
mais ligeiro. A caneta deslizava sem interrupções sobre o papel. Até as
baforadas do cachimbo boiavam coloridas. Olhou a sua obra, deu um sorriso
maroto e me passou a papelada. Saiu o seguinte:


NOSSO AMIGO CANINDÉ


Um sujeito despeitado,
Desses de baixa maré,
Inventou que Canindé
É um canalha safado.
Eu fiquei preocupado
Com a informação ralé,
Porém não perdi a fé
Em quem merece louvores...
E haja palmas e haja flores
Na fronte de Canindé.

Tenho dito e sustentado
(Todo mundo sabe disso)
Que na Câmara, esse cortiço,
Há um cidadão honrado,
Pai de família extremado,
Homem de bem e de fé!
O Papa já disse até
Padre Cícero em Juazeiro
E em Brasília, Canindé.

Sei que o Papa tem razão,
Mas ninguém quer saber disto.
Se já falaram de Cristo,
Que se dirá de um cristão
Porém a fofoca não
Atinge um homem de fé.
E se eu descobrir quem é,
Meto a mão no pé do ouvido
Do sem-vergonha enxerido
Que falar de Canindé.

Canindé - nome decente!
Tolentino - ô nome macho!
Ribeiro - lindo riacho
Que mata a sede da gente!
Honrado, amigo e valente,
Subiu da glória o sopé...
A Virgem de Nazaré
Já lhe envolveu com seu manto,
Por isso um caminho santo
Vai trilhando Canindé.

Canindé pra ser beato
Só falta mesmo a batina,
Pois tem vocação divina
Pureza, fé e recato!
Por isso ele é o retrato
Mais fiel de São José
E já se comenta até
Que Frei Damião Bozzano
Sugeriu ao Vaticano
Canonizar Canindé.

Mas sabem por que razão
Já querem canonizá-lo?
É por causa de um estalo
Que recebeu nosso irmão
Lá nas margens do Jordão,
Ao lado de São Tomé,
Quando dava cafuné
Numa velhinha doente
E morreu a penitente
Nos braços de Canindé.

Nesse chão onde ele pisa,
Por ser grande patriota,
Se faz até de agiota
Pra ajudar a quem precisa.
Mas não comercializa
A sua alma de fé!
Jamais ganhou um café
Pelo dinheiro que empresta...
A caridade é uma festa
Para a alma de Canindé.

Santo Agostinho, dos santos
Foi o mais puro entre os ermos
Que consolava os enfermos
E lhes enxugava os prantos.
Obrava milagres tantos,
Pela pureza e a fé
Pois acreditava até
Em fala de passarinho.
Mas sabem? Santo Agostinho
É pinto pra Canindé.

E mais não disse e nem lhe foi perguntado.


(*) Luiz Berto é "cobra criada" : (http://www.malvtec.com.br/)

-
"Especialista em generalidades, peruador sem compromisso, dono de um currículo sem qualquer saliência digna de nota, autor de uma obra perfeitamente dispensável, azeitador do eixo do sol, ensacador de fumaça, carnavalesco e cachacista, Papa da Igreja Católica Apostólica Sertaneja
-
.OBRAS:
-
A PRISÃO DE SÃO BENEDITO - Crônicas Primeira edição: Brasília, 1982, Ed. Independência Segunda edição: Palmares, 1987, Ed. Bagaço Terceira edição: Recife, 1991, Ed. Bagaço Quarta edição: Recife, 1997, Ed. Bagaço
O ROMANCE DA BESTA FUBANA - Romance Primeira edição: Belo Horizonte, 1984, Ed. Itatiaia Segunda edição: Recife, 1994, Ed. Bagaço Terceira edição: Recife, 2004, Ed. Bagaço
A SERENATA - Novela Primeira edição: Porto Alegre, 1986, Ed. Mercado Aberto Segunda edição: Recife, 2005, Ed. Bagaço
NUNCA HOUVE GUERRILHA EM PALMARES - Romance Porto Alegre, 1987, Ed. Mercado Aberto
MEMORIAL DO MUNDO NOVO – Romance Recife, 2001, Ed. Bagaço
PEIBUFO, ETC. E COISA E TAL - Comédia em um ato Levada ao palco em Palmares-PE, Recife-PE, Belo Horizonte-MG e Brasília- DF, 1989.
HISTÓRIAS QUE NÓS GOSTAMOS DE CONTAR – Crônicas Em preparo.
CEM OBRAS-PRIMAS DA POESIA RUIM – Coletânea
Em preparo
* * *
Participação no International Writing Program da Universidade de Iowa, Estados Unidos, a convite do governo americano.
Participação no International Festival of Authors, Toronto, Canadá.
Prêmio Literário Nacional do Instituto Nacional do Livro/MEC, categoria Obra Publicada (O Romance da Besta Fubana), São Paulo
Prêmio Guararapes da União Brasileira de Escritores (O Romance da Besta Fubana), Rio de Janeiro.
O Romance da Besta Fubana ou Festa e Utopia no Interior do Nordeste, dissertação apresentada pela Professora Ilane Ferreira Cavalcante ao Curso de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do Grau de Mestre em Letras, área de concentração em Literatura Comparada , em junho de 1996.

LOBOS E RAPOSINHAS...



Gravura/Web

"CANIS LUPUS PAROQUIANUS..."



OS LOBOS



Mestre lobo vai indo, para a luta...
Armado de ambição e de fereza,
Só receia encontrar na redondeza,
Lobo maior, de compleição mais bruta.

A lã, de que se veste, lhe transmuta,
aos olhos do rebanho, a natureza.
- Pulsa-lhe o instinto, na pupila acesa !
Aspira os ventos, a narina astuta...

Não janta bem, aliás, se não devora
dois cordeiros, na furna, convencido
de ser o rei-dos-lobos, dentro e fora.

Todavia, não cuida de uma cousa:
- que, entre os irmãos, acabará comido,
se não aprender as artes da raposa...


Othoniel Menezes
(in “Desenho Animado”, póstumo-1995)






"Sertão de espinho e de flor, de Otoniel Menezes. Natal: Departamento de Imprensa, 1952, 270p. Seus versos nem sempre são razoáveis, e, em alguns momentos, deixam-se dominar por um certo passadismo literário; mesmo assim trata-se de um livro importante. Pode parecer paradoxal, claro. Mas o que o torna um livro de inegável interesse é o conjunto de notas & comentários após cada capítulo. São notas que procuram fixar um "panorama físico e social dos sertões norte-rio-grandenses". E o que seria mais um livro de poesia, de inspiração limitada, transforma-se num rico manancial sociológico sobre os costumes da gente potiguar, inclusive com sua fala & alguns de seus provérbios mais criativos. Ou seja, estamos diante de uma obra indispensável no panorama da literatura do Rio Grande do Norte.


Moacy Cirne"


posted by MOACY CIRNE no blog Balaio Vermelho


O gênio Moacy Cirne, a mais nova e mimada – certamente muito bem remunerada - estrela fulgurante do “Auto” da Capitania das Artes de Dácio Galvão, deixando de lado os seus gibis, o poema-processo, a entrevista na “Brouhahá” (epa!) e a péssima invenção de Chico Doido de Caicó, investe, agora, valente e airoso, contra as sextilhas de Otoniel - “nem sempre razoáveis”, diz ele, a sumidade das barcas da Cantareira.É phoda – com “ph” de “pharmacia”, de “Philomena” e de “ráido “Philipe” - arre égua !Quer aparecer, o menino, nas costas do Poeta? Fazer pose?Fazer o que? E agora, bardos de Beco? Dizer o que? Responder é preciso?
Laélio Ferreira


"Caro Laélio e demais amigos:

Ligue não, Laélio; é assim mermo! Alguns dos que fazem poesia (?) concreta, moderna, versos livres, sem rima; deveriam ler o poema UM COLEGA DOTÔ, de Clarindo Batista de Araujo, seridoense de quatro costados e de altíssimo quilate, diga-se de passagem. Nele, Clarindo diz p'ro dotô:A poesia do sertão,tem chêro de muçambê.Pru gôsto se pode lê,um verso metrificado.O poeta sertanejo,compara verso sem rima,cum viola sem a prima,só dá tom desafinado.Nos seus cultos versos brancos,o sinhô fala in rinite,cita diverticulite;êsses nome assim bizarro.Aqui a agente cunhece,sete côro, nó na tripa,ô intonce, quando gripa,se diz qui tá cum catarro.Tombém fala de metrô,satélite artificiá,de carro qui anda no má,qui nem pru riba do chão.Eu digo no meu poema,qui a vantage num é tanta,qui aqui tem carro qui canta,pelas bôca do cocão.E falando de animá,vem logo rinoceronte,mamute, saiga, bisonte,alce, iaque, pangolim.Nuis meus poema se vê,rapôsa, peba, timbú,preá, mocó e tatú,jumento, boi e guaxiníin...Não tenho absolutamente nada contra quem faz o verso livre; tenho sim; contra quem não respeita o estilo dos outros. Tem que respeitar, mesmo que esse estilo seja carregado de "passadismo literário"...Agora eu pergunto, caro Laélio; a quem de direito; isso é "passadismo literário" ou preservação das nossas raízes culturais ?Na minha terra, às margens do Rio Potengi, que banha minha cidade, isso que foi dito contra a poesia de Otoniel, tem outro nome, que é dado à atitude de quem agride à memória de quem já não está aqui para se defender...Perdoe-me a indignação, mas não posso ficar calado...Inspiração limitada, como diz meu compadre Norbal, cortador de carne na feira do Conjunto Santa Catarina; " é meu treistíco isquerdo"!...Inté!

Bob Motta"

"CIDADE DE BOSTA"


CU-DE-BOI NO PAÍS DE MOSSORÓ
(Carta de MARCOS FERREIRA, poeta mossoroense laureado em vários certames de poesia - e recentemente demitido de modesto cargo na Biblioteca Municipal do "Colosso do Norte")
O bom José Nicodemos (cronista formidável) acerta em cheio, diz com muita propriedade e eficiência a injustiça por que passa Jaime Hipólito Dantas por estes lados da cloaca intelectual do RN. Só peca, e feio, ao afirmar que se trata do maior nome das letras de Mossoró, esquecendo-se aí que Jaime não nasceu nesta nossa capital brasileira da mediocridade.
Claro que entendo que Nicodemos diz Jaime mossoroense pela vivência e atividade literária que este desempenhou por aqui, mas também não podemos deixar de levar em conta esse detalhe da origem de nascimento do escritor de "História Gerais". Logo, portanto, não sendo Jaime de fato mossoroense, ficamos de imediato sem aquele que seria o maior escritor mossoroense, conforme defende Nicodemos em sua crônica de hoje no Jornal de Fato.
Em suma, continuamos uma lástima em se tratando de representatividade literária. Outros menos interessados nessas minúcias podem exclamar o nome de alguns luminares intelectuais que por aqui viveram ou vivem, homens de letras, como, talvez, o "retirante" Raimundo Nonato da Silva, a quem tanto esta cidade de bosta deve homenagens.
Depois, poderiam citar, ainda, um Raimundo Soares de Brito, o próprio José Nicodemos, etc., todos estes que vieram de recantos diversos do Estado para minimizar a nossa insignificância, o nosso vexame no plano literário. Assim como faz Natal com o nome da poeta (paraibana) Zila Mamede e com o poeta (carioca) Luís Carlos Guimarães, ambos de saudosa memória e que a medíocre intelectualidade potiguar desonesta contumazmente alardeia como se fossem nascido neste Elefante sem brilho e sem glórias.
Quero dizer com isto, e a história tem provado a minha suspeita, que não vale a pena elevar ou levar o nome desta cidade de bosta chamada Mossoró a parte alguma. Taí o Jaime Hipótito Dantas no mais vergonhoso esquecimento. Sequer lhe botaram o respeitável nome num beco sem saída desta cidade-pântano, neste meretrício social, moral, intelectual, político e religioso.
Sem mais,Marcos Ferreira."

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

AS BOTAS DE MAURÍLIO EUGÊNIO...

Foto/Web

"LARICA" COM JAMES BROWN
EM NASHVILLE
(MAURÍLIO SOARES EUGÊNIO é Professor de Inglês. "Pintou-o-sete" quando jovem, foi hippie, conheceu Oropa, França e Bahia. Hoje, além de careta todo, é - na minha opinião - um péssimo poeta mas um tremendo memorialista, de boa prosa, fluente e solta . Sabe dizer as coisas)


"Dei uma "bola" com James Brown em 1977 em Nashville quando da Fan Fair, uma feira (festa) country anual do Tenessee, muito interessante.
Conheci-o na barraca de venda de botas e jeans usados, de caubóis - ainda hoje tenho as minhas, bastante curtidas, em verdade.
Ele procurava umas botas de salto e eu o ajudei sem saber que era o grande Jim Brown que eu tanto curtira nos 70s, e o magnífico Barelights on Broadway, o melhor disco de toda a sua produção.
Comecei a conversar com ele com a intenção de praticar o ebonic (antigo Black English) que é o acento, a maneira típica de falar da população afro-americana, que eu admirava.
Pensava que era um negro americano comum daqueles todo enfeitados. Quando falei que era brasileiro ele ficou empolgado; que tinha muita vontade de fazer um show no Brasil e que sua música tinha alguma influência de Jorge Ben a quem ele conhecera em Nova Iorque.
No final escolheu três botas e dois jeans e eu uma bota. Ele pagou tudo, depois me convidou para almoçar. No caminho, enquanto procurávamos um restaurante típico, ele acendeu um baita de um baseado; assim, caminhando entre as pessoas, na maior cara-de-pau. Era forte pra caramba, cannabis indica.
Falamos sobre a canábis do Brasil, que é a sativa; ele falou que já conhecia, que era famosa; que um amigo percusionista carioca que trabalhara com ele recebia from Rio, trazida por outros músicos.
Ainda passamos por diversos stands, onde ele comprou várias outros artigos, em grande parte roupas.
O interessante é que ninguém o reconhecia; mas também, disfarçado como estava..., com enormes óculos de sol e chapéu. Falava gíria pra caralho e era extremamente desbocado. Na verdade só entendia 60% do que ele falava; muita coisa ele tinha que explicar com detalhes.
Comemos em um restaurante típico de comida do Kentuck (chicken and dumplings), que são pedaços de frango caipira fritados mergulhados em óleo fervente e com um molho adocicado acompanhados com batatas – um rango perfeito após a "larica").
Bebemos também várias doses de Jack Daniels.
Aí, lá pras tantas, ele veio com uma onda de viadagem - eu então: hit the road, Jim - pedi licença pra ir ao banheiro, deixei-o com a conta do almoço e saí pelos fundos no rumo da estação para pegar o Am Track de volta a Atlanta onde eu estava hospedado em um hotel de vigésima categoria.
O pior é que eu tinha deixado com ele um cartão de visitas com meu endereço em Coral Gables (Miami).
Aí, duas semanas depois...

Infelizmente não posso contar o resto da história aqui, pois vai perder o ineditismo. Está narrado no A Verdadeira História da Miami Mostra Natal, documentário inédito a ser lançado até o final deste ano.
Pois é, as minhas botas compradas no stand de botas usadas da Fan Fair, em Nashvile, Tenessee e pagas pelo rei do funk, ainda as conservo como relíquias. Belas recordações aventureiras.

É isto aí. "

COMO SEMPRE ACONTECE NA JERIMUNLÂNDIA...

O VALENTE E ESQUECIDO DOM PERO MENDES DE GOUVEIA

Foto Arquivo/Cláudio Galvão


A FORTALEZA DOS REIS MAGOS


Antônio Soares





Largas muralhas, rijas e pesadas,


Batidas pelo mar e pelo sol,


Sustendo, sob abóbadas e arcadas,


A branca e esguia torre do farol.




No abandono, sem armas nem paiol,


O Forte - lutador de eras passadas -


Vê desfilar, das vagas no lençol,


O pacato cortejo das jangadas.




Em segredo conserva o poema antigo


Das guerras holandesas, das batalhas


Sustentadas com o bátavo inimigo...




Vezes, porém, parece que se alteia,


Perdida no silêncio das muralhas,


A voz de Pedro Mendes de Gouveia...




(in Lira de Poti, capa acima)





O VALENTE CAPITÃO DA FORTALEZA

(O trecho abaixo está contido no livro do Escritor HÉLIO GALVÃO, - obra definitiva - "HISTÓRIA DA FORTALEZA DA BARRA DO RIO GRANDE" - MEC/1979)



"A 11 o Tenente-Coronel Bima dirigiu mensagem ao Capitão-mor Pero Mendes de Gouveia, intimando-o à rendição: dispunha de força suficiente para tomar a praça, mas lhe oferecia aquela oportunidade de entregá-la desde logo. Pero Mendes, bravo e fiel, estando sobre as muralhas, foi atingido por estilhaços no sábado e ficara graveemente ferido. 17 Sua resposta à intimação é conhecida pela cópia do redator do Diário da Jornada, o que lhe garante autenticidade. Documento de alta nobreza e rara coraagem, mas circunstâncias emergentes:


"Estou bem certo das boas disposições e cortesia de V. Exa., como bom soldado que é, em todos os assuntos e principalmente nos negócios da guerra. Mas V. Exa. deve saber que este forte foi confiado à minha guarda por S.M. Católica, e só a ela ou a alguém de sua ordem o posso entregar e a mais ninguém, preferindo perrder mil vidas a fazê-Io, e do mesmo espírito se acham animados todos os meus companheiros, achando-nos bem providos de todo o necessário. Pero Mendes de Gouveia".18


Enquanto o capitão-mor estava em sua cama, ardendo em febre, pessoas estraanhas ao comando da Fortaleza consertavam a rendição: "e às nove horas da noite do dia 11 abriram as portas e escreveram ao inimigo". Na manhã de 12 a bandeira branca da capitulação apareceu sobre a muralha. Essas pessoas estranhas, eram: Sargento Sebasstião Pinheiro Coêlho, foragido de uma prisão da Bahia; Simão Pita Ortigueira, preso na Fortaleza, condenado à morte; Domingos Femandes Calabar, que viera na expedição.


Levou um tambor e uma carta. Porque não estivesse assinado pelo Capitão Gouveia, o Tenente-coronel Baltasar Bima prudentemente a recusou. Mas logo se esclareceu que a carta traduzia o pensamento dos que agora estavam responsáveis pela praça, enfermo o seu comandante, os quais se comprometiam a entregá-Ia. Estes fatos ocorriam a bordo de um dos navios. Regressaram então ao forte, vindo como refém do invasor o Capitão Frederico Maulpas: vieram"à terra Keulen e Carpentier para, de perto, melhor controlar a situação. Pouco depois estava firmada a capitulação: os soldados se retirariam com suas armas e bagagens, sendo-Ihes assegurado transporte para onde quisessem, e o forte seria entregue com todo o armamento.


Propôs-se de volta um aditamento: permissão para que o capitão- mor e o proveedor-mor Pero Vaz Pinto permanecessem por seis dias na Fortaleza, podendo ir e vir, e que, ao se retirarem, pudessem conduzir criados, bagagens, prata, dinheiro e armas. Pediu-se também a liberdade de Simão Pita Ortigueira e entrega da bandeira. Tudo atendido, menos a bandeira e a permissão de livre locomoção do capitão-mor e do proovedor-mor os seis dias. E ainda, por fim, esta ressalva:
"Declaro que este contrato é feito por todos os oficiais e soldaados do forte, porquanto o capitão-mor jaz demasiado gravemente ferido. Sebastião Pinheiro Coelho". 19


Subiu no mastro o pavilhão do Príncipe de Orange. Lichthard, Keulen e Bima vão visitar em seus aposentos o honrado comandante ferido.

O condestável teve arrancado um braço e o capitão-mor não tinha recebido neenhum curativo. Havia outros feridos. Veio de bordo um dos cirurgiões, Dr. Nicolau, que fez o devido tratamento.
Ciente do que ocorria, protestou Pero Mendes, alegando que as chaves tinham sido retiradas de sua cabeceira, em momento de febre. Apesar da insuficiência numéérica das forças sob seu comando, mas dispondo de munição bastante, Pero Mendes tinha o deliberado propósito de resistir. Ao menos para ganhar tempo, pois sabia que não demorava o socorro que pedira à Paraíba, de acordo com as instruções recebidas.

De posse das informações indispensáveis sobre o potencial inimigo, tinha mandado avisar a Matias de Albuquerque e ao Conde de Bagnolo. Chegou à tarde o portador da mensagem, e logo à noite saíram em seu auxílio o Sargento-mor Antônio de Madureira Trigo, com 350 homens, os capitães da Fortaleza de Cabedelo, Gaspar de Valcacer e Domingos de Arriaga e os Capitães Cosme da Rocha, André de MeIo e Albuquerque, Rui Calaza Borges Serpa e Miguel Padilha, cada um com uma Companhia de 200 homens, força suficiente para defrontar a armada atacante, ultrapassando-a em númeero, somada ao efetivo existente.2o Este substancial reforço, porém, resultou inútil diante do fato consumado. O próprio General Bagnolo, que logo ao amanhecer se fizera ao mar em demanda do teatro de operações, voltou do meio do caminho: a guarnição se havia rendido. O Capitão Madureira velejou para a barra do Cunhaú, recolhendo ao engenho algumas pessoas e bastante gado, "e com os seus volveu à Paraíba".

Depois de três dias, Pero Mendes foi levado a Recife no Den Phenix, confortaavelmente hospedado no camarote do Capitão Smient."








segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

DO BLOGUE DE CARLOS SANTOS


"Comunicação
Blog e ‘Web Social’, as tendências da mídia para 2007“Os blogs, espaços para a exposição de idéias e multimídias pessoais em diários virtuais, podem alcançar o seu ápice em 2007”. A informação é apresentada em reportagem especial de hoje no jornal O Globo do Rio de Janeiro.Segundo estudos divulgados em relatório pela consultoria internacional Gartner, “o ano de 2007 deve ser dominado pelas inúmeras faces da Web Social, nome dado para a segunda geração de serviços baseados na Internet; a Web 2.0.”Continua a reportagem: “Os investidores anunciaram que devem colocar seus dólares em iniciativas centradas na Web Social, ao ponto de no Vale do Silício (Califórnia) – berço de grande parte das empresas de Internet e tecnologia dos EUA – começarem a aparecer sinais que lembram o ’boom’ e posterior colapso da área ocorrido em 1999”.Como ocorre em qualquer atividade humana, o ambiente virtual é também um espaço baseado na eficiência, no profissionalismo e na qualidade. “Executivo da Gartner, Daryl Plummer comenta: “Muitas pessoas apostaram e desistiram da interação. Todos pensam que têm algo a dizer, até serem postos nesta posição e serem solicitados a fazê-lo”.O consultor assevera que a maioria das pessoas que começam blogs não os mantêm. O ano de 2006 se encerra com mais de 200 milhões de ex-blogueiros. Mesmo assim a consultoria aposta que serão publicados pelo menos 100 milhões de blogs em 2007. Para se ter uma idéia do aquecimento do setor, veja essa informação adicional: O Google pagou 1,65 bilhão de dólares pelo You Tube, companhia criada por jovens do Vale do Silício há menos de dois anos.
CARLOS SANTOS "

BAR "CAFÉ FILHO" - Flagrantes bequeanos




Fotos/Beco da Lama








ARRE ÉGUA ...!



Foto/Beco

IPSIS LITTERIS...

"JACINTO,

PROCURE O SERRÃO OU PLINIUS, ELES FORAM OS IDEALIZADORES DA VERSÃO POTIGUAR DO SALÃO DOS EXCLUIDOS... A FRANÇA NA VERDADE CLONOU A VERSÃO POTIGUAR... BOM NATAL & VIVA 2007. ANTONIUS MANSO( PHOTOGRAPHER)

Em 25/12/06, sebastiao jacinto dos santos <http://br.f307.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=sebastiaojacinto@hotmail.com> escreveu:

Eu gostaria de receber mais informações sobre o II Salão dos Excluídos.

ESTUPRO NO BECO

Eu ia adentrando a ruela que adentrava em mim.Um beco de lama, sujo das imundices mundanas dos dias de feira

Uma lama desalmada, acamada ali, jogada, renegada...

Contavam os boatos pela cidade provinciana potiguar: o beco ressurge, de lama, de fama, de tramas

O beco fênix transforma as cinzas em lama, que escorre em meu corpo, eslamaceia o meu ser, o que nos faz crer ser.Escuto um zunido, uma música, um grito, um berro,Um bêbado cambaleia num zing zag alcoólico,embora o seu ser o presuma está pisando em nuvens!

Aqui e ali um humano semelhante a mim mais com cara de Deus. Fui banido por tudo e por todos!No Beco fui recebido como um mar revolto a lavar a areia da praia!

Fui apalpado culturalmente, me encantei, me entreguei!

Entrei homem no beco e sai mulher, menino rapaz, rapariga, prostituído por uma cultura de "massa"!

Ali mesmo fui desvirginado, estrupado, esmolambado;me rasgaram a alma e afloraram os meus sentimentosum desejo inocente me faz voltar a sena do crime...

recordo as lambidas, as bebidas, as feridas herdadas do tempo!

Hoje a historia registra a rua da lama que é minha vida, o aperto

Um beco estreito que distribui gritos de esperanças, a nova pátria da cultura potiguar.

Sebastião Jacinto dos SantosNatal/RN, 25 de dezembro de 2006

Aproveito para agradecer ao Corpo de Artistas do Beco da Lama que me acolheram com bastante alegria na abertura de minha exposição.

Um afetuoso obrigado!

Com Estima e Carinho:

Sebastion Bom

25 de dezembro para todos os lameiros! "

Observação:

O colorido acima é do blogueiro. Quanto ao texto - juro por Deus ! - é verdadeiro e dou fé!

UMA GLOSA EM "D"...


Foto/Web




Mote:

Diga dama deslumbrante
de Dakota, Denver, Dalas




Glosa:



De donde, Dália (*) distante,
diga donde, delicada,
diga doce, dedicada
- diga, dama deslumbrante!
Dadivosa diletante,
dê-me dádivas. Dará-las ?
- Diga dois ditos dualas,
diga dulces, depurados,
dois deleites, dois ditados
de Dakota, Denver, Dalas ...!


Laélio/2005

(*) Dália é mulher bonita e culta, norte-riograndense casada com americano, filha de uma velha amiga e colega minha do TCU, Nalva Nóbrega Fonseca. Mora na Califórnia e freqüenta o Beco da Lama virtual.







"FINDOU-SE A VELHA RIBEIRA..."

Foto/Arquivo

"Jornal de WM
Tribuna do Norte, 29/04/05


Bastou sair o mote para pipocar as primeiras glosas. Contei ontem aqui a história do doutor Paulo Balá, que, descendo à velha Ribeira depois de demorado recesso e encontrando o bairro bastante deteriorado, sapecou num envelope que abrigava uma de suas cartas do sertão do Acari, a sentença que achei sendo um mote modelar: “Findou-se a velha Ribeira.../ Nem quenga se encontra mais!”. Manhã cedo, abrindo o computador, cá estavam as primeiras glosas. Uma delas, do Laélio Ferreira de Melo, que faz parte da turma do Beco da Lama, e sabe das coisas. Confira:



Findou-se a velha Ribeira...
Nem quenga se encontra mais!



"Já foi madame festeira,
na Quinze, na Quarentena...
De tanto tomar verbena,
findou-se a velha Ribeira!
Já foi linda, a canguleira,
foi mulher-dama no cais...
Envelheceu e jamais
ao violão ouviu juras
- nas suas ruas escuras
nem quenga se encontra mais!"



E lá de longe, das ribeiras de Riacho de Santana, na “tromba do elefante”, aceiros da Serra de Luís Gomes,o professor Jotacê, poeta cordelista e geógrafo, poetou:


“Um bairro que tem história
Hoje se encontra esquecido
É celeiro de bandido
Dia e noite tanto faz
Na vizinhança do cais
Só perigo e bebedeira
Findou-se a velha Ribeira...
nem quenga se encontra mais”.



Aí Aurino de Marpas, poeta de alta estirpe, entra por outra vereda, e antes que o relógio da Igreja do Bom Jesus das Dores, parede e meia com a sua sala, bata as 6 badaladas do findar da tarde, enfileirou estes versos:


Balá, você deu bobeira,
Ao dar, a Woden, o recado,
- para mim, equivocado -
“Findou-se a velha Ribeira”.
Pois, aqui, num tem a feira?
E um dos grandes jornais?
Retrocesso, aqui, jamais!
Porque acho até vantagem,
Se, do Potengi, à margem,
“Nem quenga se encontra mais...”







O CAPITÃO DO DOUTOR FLORO...

Foto/Web
"LAMPIÃO FOI CAPITÃO

O Dr.Floro Bartolomeu da Costa, médico baiano, chegado em 1908 à cidade cearense de Joazeiro, foi o chefe “militar” da revolução caririense de 1914, contra o governo do coronel Franco Rabelo, que derrubou, chegando às portas de Fortaleza com algumas centenas de cangaceiros, arrebanhados na Meca do Padre Cícero, e após expugnar, uma a uma, todas as localidades à margem da estrada de ferro, guarnecidas por Exército e Polícia.
Durante essa terrível luta civil, na qual, como em Canudos, a inssurreição se apoiou profundamente na incoercível mitomania dos nossos broncos e desamparados patrícios dos sertões, foi vítima dos guerrilheiros de Flóro, a 22 de fevereiro daquele ano, o inolvidável democrata norte-rio-grandense, capitão José da Penha, tombado na inglória escaramuça de Miguel Calmon.
Escorado no formidável prestígio do Patriarca – “o anjo do Ceará”, segundo o bispo D. Luiz Antonio dos Santos; o “ladrão Cadmo”, na opinião do padre Alencar Peixoto -, Floro Bartolomeu, apesar da extrema crueza que o caracterizava, foi o verdadeiro civilizador da babilônia carola, impondo-lhe a ferro e fogo, o impulso decisivo para o progresso de que atualmente desfruta: é a segunda cidade do Estado do Ceará, em população, mantendo a primazia quanto à importância industrial e comercial. Todo o sólido calçamento urbano, o granito de que dispõe Joazeiro, em mais de um terço, é, ainda, o que foi assentado sob a administração pesssoal do caudilho, cujo fura-bolos, sob a esmeralda simbólica do sedare dolorem, se havia calejado no gatilho da Winchester. Fuzilou, sumariamente, dezenas de facínoras que infestavam o imenso arraial católico, e aos quais obrigava a trabalhar rudemente, em turmas sob a sua impiedosa fiscalização. Construiu e inaugurou a grande praça central da cidade, otimamente urbanizada, e toda pavimentada a quadriláteros de pedra, com um monumento ao Padre Cícero e elegante torre com relógio.
Sob os auspícios do governo Artur Bernardes, improvisou, em 1926, um batalhão patriótico(!), integrado pela fina flor dos suspeitíssimos, heterogêneos elementos anteriormente utilizados contra o governo legal de Franco Rabelo, batalhão que deveria empregar na perseguição à “coluna Prestes”, a esse tempo já atingindo a periferia cearense.
Escreve M. DINIZ, no seu movimentado, interessantíssimo livro, Mistérios do Joazeiro, já citado:
“O dr. Floro que sempre apreciou os elementos do terrorismo, mandou uma carta a Lampião, chamando-o a esta cidade, para incorporar-se aos Patriotas. O advogado José Ferreira de Menezes foi o portador da carta, de Campos Sales a esta cidade, onde havia um irmão do legendário bandoleiro, que conduziu-a em companhia de um dos tenentes dos Patriotas. Aproximou-se Lampião, dirigindo-se a esta cidade, quando o Dr. Floro, ou por já terem passado os revoltosos, ou por ter chegado o tenente coronel Polidoro Coelho, com quem dizem teve forte alteração, passou a José Ferreira o seguinte telegrama: - “Comunique não é mais preciso Lampião. Povo já seguiu em perseguição a revoltosos”. Tal telegrama tem a data de 22 de janeiro de 1926, e parece-me autêntico, porque, efetivamente, Lampião aqui chegou, depois de 8 de fevereiro, quando o dr. Floro já tinha partido para o Rio. Lampião não incorporou-se aos Patiotas, mas esteve nesta cidade. Não foi nomeado capitão, como dizem,mas consta que Uchoa (empregado no Ministério da Agricultura, e sem atribuição para tanto) nomeou-o capitão, para contentá-lo, pois ele exigia do Padre Cícero o cumprimento da promessa que lhe fora feita na carta que lhe remetera especialmente o Dr. Floro, que no Rio achava-se bem longe da tal embrulhada que deixara. Lampião regeressou daqui, fardado de capitão, em companhia de seus 49 soldados devidamente uniformizados”.

LEONARDO MOTA, em seu fascinante livro, No Tempo de Lampião, conta minuciosamente o caso, reproduzindo o depoimento de Pedro Albuquerque Uchoa, “um velho agrônomo que, àquele tempo, exercia na Meca sertaneja do Ceará as funções do cargo de inspetor agrícola”. Segundo essa confissão, feita de viva voz ao saudoso folclorista, foi Uchoa quem, sob ditado do Padre Cícero, redigiu a famosa, inacreditável “patente”ao bandido, “em nome do governo da República” (sic)."

(in "SERTÃO DE ESPINHO E DE FLOR", de Othoniel Menezes - no prelo a segunda edição, inserta nas suas obras completas)


EM NOITE DE LUA CHEIA...

Foto/Web


Antoniel, meu comandante da madrugada.
Bom dia, esse menino!
O poema, como sempre acontece, vindo da sua pena, é bonito. A mensagem, mais uma vez, continua erótica, taradona.
Vosmecê - acho - peca por pensar só "naquilo", repetidamente, ano acima e ano abaixo, nessa única direção, pomba erguida, mulher gemendo, clicando madrugada à dentro (epa!).
Henrique Castriciano, em 1918, no prefácio do "Gérmen", passou um carão em Othoniel (que, à época, tinha apenas 23 anos, VINTE-E-TRÊS, repito) no sentido de que tomasse tenência em relação ao mulherio e passasse a se preocupar mais com a Natureza, com o mar, o céu, com o social e outras milongas mais que não xota, xota, xota, e xota...
O chorão da "Praieira" obedeceu, maneirou a barra e, parece, se deu bem, de lá para cá. E nunca deixou de apreciar a fruta, não !
Tome tenência e me queira bem. Mais, nada.
Abraço,
Laélio

Fode mais do que uma paca
em noite de lua cheia


Ele é doido por tabaca,
é um jumentinho andaluz...
E come, ainda, alguns cus
- fode mais do que uma paca !
Dia e noite o bicho ataca,
dá muito serviço à peia...
Se cair na sua teia
qualquer fêmea – tudo indica,
vai engolir muita pica,
em noite de lua cheia !


Laélio/2005



IPSIS LITTERIS...


"História


(Luiz Gonzaga Cortez)

Cascudo apoiou o regime militar

A revista Continente Multicultural (Documento), editada pelo Governo do Estado de Pernambuco, publicou em agosto de 2006, uma edição especial sobre Luís da Câmara Cascudo, tratando da vida e a obra do maior folclorista do Rio Grande do Norte. Uma edição belíssima com 46 páginas, com ensaios escritor por três professores da UFRN.
A revista tem uma edição impecável, textos agradáveis e concisos, sem os “rames rames” e elucubrações muitos comuns nos sítios acadêmicos do país. A publicação traz dois textos que registram a participação de Cascudo na Ação Integralista Brasileira, entre 1933/1937, as suas posições políticas conservadoras e a sua adesão ao regime militar instaurado em abril de 1964.
Aqui, no tocante ao apoio aos militares, é necessário reparos ao texto intitulado “O conservadorismo político” (p.18), onde o autor escreveu o seguinte: “É verdade que Cascudo não se manifestou explicitamente a favor do regime militar, mas no clima dos anos 70/80, para a esquerda e para aqueles que faziam parte da frente de redemocratização do país, aceitar, com a satisfação com que Cascudo aceitava, os agrados dos militares no poder, era algo imperdoável”. Não, quem assistiu e/ou tomou conhecimento de alguns acontecimentos pós-abril de 64, em Natal, quem freqüentou a Praça das Cocadas, no Grande Ponto, sabe muito bem que Luís da Câmara Cascudo se manifestou, explicita e publicamente, diversas vezes a favor do regime militar, em 1964, 1965 e anos seguintes.
A esquerda natalense sabia disso, desde os primeiros meses da implantação do regime discricionário. Cascudo cortejou e foi cortejado. Cascudo apoiou a campanha de arrecadação de ”ouro para o bem do Brasil”, comandada pelo jornalista Assis Chateaubriand, através da cadeia de jornais e rádios Associados, que, em Natal, teve a instalação festiva em pleno centro da cidade, num palanque armado na frente do prédio onde funcionou o antigo Hotel Ducal.Cascudo discursou na solenidade (ou estou equivocado?) No dia 27 de novembro de1966, o Instituto Histórico e Geográfico do RN, comemorou o aniversário da “Intentona Comunista” de 1935 com uma conferência do general Antonio Carlos da Silva Muricy sobre “A guerra revolucionária no Brasil e o Episódio de Novembro de 1935”.
A homenagem do IHG foi salientada pelo presidente da entidade, Enélio Lima Petrovich, pelo fato do general Muricy ter sido o autor, em 1963, da primeira insurgência pública “e em documento assinado, contra a agitação subversiva nos campos do Rio Grande do Norte”.A saudação oficial foi de Luís da Câmara Cascudo, de improviso e está gravada, conforme informa a plaquete editada pelo Departamento de Imprensa do Estado.
O general foi recebido com honras da tradicional casa de cultura, tornando-se, na ocasião, sócio honorário concedido na sessão de 9 de maio de 1964. Eu estava lá, levado pelos meus pais, ex-integralistas como Cascudo. E quem saudou o general? Foi Cascudo. O IHG publicou uma plaquete com a palestra do general e a saudação do maior intelectual potiguar ao homem forte do novo regime.No dia 9 de agosto de 1973, na fase mais dura do regime militar, Cascudo discursou de improviso, como sempre o fez, no Salão Vermelho do Hotel Nacional de Brasília, para um seleto público e as maiores autoridades militares e civis da capital da República. Motivo: Cascudo recebia, na ocasião, o Prêmio “Henning Albert Boilesen” e fascinou, segundo uma testemunha feminina, as personalidades ali presentes, como o Almirante Hamann Rademacker Grünewald, Vice-Presidente da República, senador Jarbas Passarinho, Ministro da Educação e Cultura e o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, chefe do gabinete militar da Presidência da República.Boilesen, rico e poderoso empresário, dono do Grupo Ultra, teria sido um dos maiores financiadores da repressão policial aos comunistas que aderiram à luta armada contra a ditadura. Há ex-presos políticos que dizem que Boilesen fiscalizava as instalações do DOI-CODI e da Polícia Civil de São Paulo, onde se torturavam os presos políticos, para verificar a aplicação dos recursos financeiros que angariava nos meios empresariais.
Nada demais para o “papa da cultura potiguar”, um homem da direita suave, que apoiou o regime militar assim como milhares de brasileiros apoiaram a derrubada do presidente João Goulart por causa do temor ao comunismo.
Em Natal, apoiaram o golpe militar o governador Aluízio Alves, Dinarte Mariz, a Igreja, os evangélicos, maçonaria, empresários, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, agricultores, jornalistas (dos militares, a categoria recebeu um terreno para a sua sede, na rua Felipe Camarão, Centro). Quer mais? Pára, pára.

Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador"

(Do blogue do Jornalista Carlos Santos)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

BABAÇAO NO BECO DA LAMA...

Gravura/Web



"Beco da Lama"
De:
"Ørf"
Ver detalhes do contato
Data:
Mon, 16 Oct 2006 19:55:09 -0200
Assunto:
[becodalama] Sabado aa tarde...

No Beco, ótima mesa, muito embora quando Nei falava todos mandavam fazer silencio...José Carlos e Nei Leandro emolduram nossa querida Gardênia Lúcia.(Leo, ela está morrendo de saudades.... )"



Muita gente pendurada
Nos culhões do mestre Nei



Na visita anunciada
- com dias de antecedência ! -
Muito grande era a assistência,
Muita gente pendurada !
Baba-ovo, de carrada,
Uma patota, uma grei...
Alex (*), possesso: - “Ei,
cala a boca, vil gentalha,
sou eu agora – espalha ! -
nos culhões do mestre Nei ! “

(*) Alex Gurgel, repórter, fotógrafo.





Laélio/out/2006








DIÓGENES NA DANÇA DOS FESCENINOS...



Gravura/Web

PROVOCAÇÃO

Diógenes da Cunha Lima, escritor, poeta, Presidente da Academia de Letras, meu ex-colega do velho Atheneu Norte-rio-grandense, sob o apelido de "Dida Cornetão", "entrou na dança" dos fesceninos, cutucando com vara curta:

Vem louvar meu instrumento
E vivas dês a meu pau!


Laélio, teu verso isento
De malícias só irmana,
Mas deixa de ser sacana,
Vem louvar meu instrumento,
Que me deixa mui contento
E derretido, um mingau.
Sêjas um bom (homem mau!)
Pois honras Otoniel,
Um mestre de Antoniel.
E viva dês a meu pau!

Dida Cornetão

Mereceu, de pronto, resposta:

Vem louvar meu instrumento
E vivas dê ao meu pau!


“Seu” Dida, eu sou um jumento
Daqueles da Andaluzia...
Mas, se quer – tem primazia! –
Vem louvar meu instrumento !
Encare, enfrente o portento,
Deixando a “fera” no grau...
Depois, com cara-de-pau,
Com o cu pleno de escara,
Faça queixa a Ojuara
E vivas dêS ao meu pau !

Seu Doutor da Cunha Lima
De pau eu só louvo o meu


- Vossa Mercê não esgrima:
vai perder prá minha espada !
É durindana afamada,
Seu Doutor da Cunha Lima !
- Da viola tanjo a prima,
Eu sou o cão – Asmodeu !
Desde os tempos do Atheneu
Endoideci por boceta
- Nessa história de caceta,
De pau eu só louvo o meu !




Poeta se mal pergunto:
Quem é “Dida Cornetão” ?


Ferve-me, cá, o bestunto,
Me corrói a suspicácia,
Arrasa-me a perspicácia
- Poeta, se mal pergunto:
Quem é o seu adjunto
- esse aí, do jamegão ?
É do agreste, é do sertão,
Da matinha do Marista ?
Mande o nome do artista
- Quem é Dida Cornetão ?


Laélio/out/2006


ANTONIEL CAMPOS: SÓ PENSA "NAQUILO" ...



Foto/Web

"From: Antoniel Campos
Sent: Sunday, September 10, 2006 7:14 PM
Subject: [becodalama] a panturrilha. o calcanhar. o joelho. a coxa. o cotovelo. as mãos.

pudesse, lamber-lhe-ia a panturrilha.
e o calcanhar. e o joelho. e a coxa. e o cotovelo. e as mãos.
pudesse.
mas não posso.

sim eu posso.
então lambo-lhe a panturrilha, o calcanhar. o joelho. a coxa. o cotovelo. as mãos.

mas,...
tens a panturrilha mais disputada.
antanho, quero-a no cheiro na ibéria.

sei dela perto; quero-a próxima.
dizer-lhe versos.
cantar-lhe e, ao mesmo tempo, sorver: a panturrilha, o calcanhar. o joelho. a coxa. o cotovelo. as mãos.

Antoniel Campos"

Meto a boca, chupo, lambo
Calcanhar, boceta e coxa



Tremo as pernas, fico bambo,
Vou no rumo da “ibéria”...
Vou sorvendo a bactéria
- meto a boca, chupo, lambo !
Na panturrilha, o molambo
Da língua - ficando roxa ! –
Parte no rumo da chocha
Locupleta de pentelho
- passeou, já, por joelho,
calcanhar, boceta e coxa !


Laélio/set/2006




Devo a mão e o cotovelo
Na tal chupada, meu bardo !


Foi por pressa e atropelo
Que falhei - fui infiel !
Esqueci, Antoniel:
- Devo a mão e o cotovelo !
Boca cheia de cabelo,
A língua dando retardo,
Vacilei, tornei-me tardo
E ao demorar na boceta
Perdi o rumo – caceta! –
Na tal chupada, meu bardo !


Laélio/set/2006


NO ALTO DA MONTANHA MOSSOROENSE...

Arte: Serrão

Léo Kid e Kid Alex (*)
namorando em Mossoró



São dois caibóis prafrentex
lá do Alto do Louvor
- trocaram cu, sim senhor,
Léo Kid e Kid Alex !
Preliminar porno-sexy
rolou, grave, no xodó:
- se beijaram no forró
lá do “Eliseu Ventania”,
fizeram muita folia,
namorando em Mossoró...!



(*) Jornalistas Léo Sodré e Alexandro Gurgel



Laélio/junho/2006

NA "EMBALAGEM" DE WODEN...


"BROUHAHA - Título da revista da Fundação Capitania das Artes, Brouhaha (pronuncia-se bruaá) é uma palavra incomum. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Objetiva, Rio de Janeiro, 2001) menciona a expressão no verbete bruaá, que dentre outros significados, quer dizer burburinho, movimento, agitação ruidosa... Há referências também à palavra desde a refinada literatura de Joseph Conrad (Bhouhaha bíblico) a uma prosaica banda de rock homônima em São Paulo, mas a inspiração para o nome da nova publicação, surgiu principalmente de uma correspondência trocada entre os escritores Luís da Câmara Cascudo e Joaquim Inojosa. Em carta dirigida a Inojosa, intelectual modernista de Pernambuco, e datada de 13/08/1925, Cascudo enviou dois poemas – Symmy, cuja ortografia correta é Shimmy, dedicado a Mario de Andrade, e Kakemono –, que foram publicados no Jornal do Commercio, de Recife. O célebre historiador potiguar planejava publicá-los num volume de poemas, Brouhaha, conforme informa Inojosa em O movimento modernista em Pernambuco (2º volume, Gráfica Tupy, Rio, 1968). O livro do poeta Cascudo, porém, não chegou a ser editado. A publicação do poema no jornal pernambucano e os planos de Cascudo de editar Brouhaha são fatos registrados também por Américo de Oliveira Costa em Viagem ao Universo de Câmara Cascudo (Fundação José Augusto, Natal, 1969).Ao escolher o nome Brouhaha, a Capitania das Artes não subestima a inteligência do leitor, nem do público consumidor e criador de arte e cultura em Natal, ao mesmo tempo em que presta mais uma homenagem a Luís da Câmara Cascudo, o maior, o mais completo intelectual do Rio Grande do Norte. "
WODEN MADRUGA, na sua festejada coluna da Tribuna do Norte, à época, bateu firme no título da revista e eu aproveitei a "embalagem", glosando no estilo "crioulo-doido"/Zé Limeira:
Cangulo, Praia da Limpa,
preá, mocó, brouhahá
Abraão, cabra supimpa,
foi beber na Quarentena,
Tim Maia comeu verbena,
cangulo – Praia da Limpa !
Vamos ver se agora grimpa
de Policarpo o ganzá!
Quero ver o bafafá,
lá na Pedra da Bicuda,
- “Seu” Woden me acuda:
preá, mocó, brouhahá ...!
Natal - de Poti mais bela,
do Bispo Dom Marcolino
- chegou aqui um menino,
da Bahia veio à vela.
Na Cova da Onça u’a tela
pintou de Paulo Balá;
Foi prefeito em Tangará,
de Abraão quebrou a cara,
deu um purgante prá Sara:
- preá, mocó, brouhahá !
Santos Reis, Beco da Lama,
Alecrim, Maria Boa
- glosa agora vira loa,
a viola não quer fama !
Repinica, chora, clama,
pedindo o som de um ganzá...
Cascavel sem maracá
- me acuda, Woden Madruga,
vou gritando em minha fuga:
preá, mocó, brouhahá...!
Laélio/2005