terça-feira, 26 de dezembro de 2006

AS BOTAS DE MAURÍLIO EUGÊNIO...

Foto/Web

"LARICA" COM JAMES BROWN
EM NASHVILLE
(MAURÍLIO SOARES EUGÊNIO é Professor de Inglês. "Pintou-o-sete" quando jovem, foi hippie, conheceu Oropa, França e Bahia. Hoje, além de careta todo, é - na minha opinião - um péssimo poeta mas um tremendo memorialista, de boa prosa, fluente e solta . Sabe dizer as coisas)


"Dei uma "bola" com James Brown em 1977 em Nashville quando da Fan Fair, uma feira (festa) country anual do Tenessee, muito interessante.
Conheci-o na barraca de venda de botas e jeans usados, de caubóis - ainda hoje tenho as minhas, bastante curtidas, em verdade.
Ele procurava umas botas de salto e eu o ajudei sem saber que era o grande Jim Brown que eu tanto curtira nos 70s, e o magnífico Barelights on Broadway, o melhor disco de toda a sua produção.
Comecei a conversar com ele com a intenção de praticar o ebonic (antigo Black English) que é o acento, a maneira típica de falar da população afro-americana, que eu admirava.
Pensava que era um negro americano comum daqueles todo enfeitados. Quando falei que era brasileiro ele ficou empolgado; que tinha muita vontade de fazer um show no Brasil e que sua música tinha alguma influência de Jorge Ben a quem ele conhecera em Nova Iorque.
No final escolheu três botas e dois jeans e eu uma bota. Ele pagou tudo, depois me convidou para almoçar. No caminho, enquanto procurávamos um restaurante típico, ele acendeu um baita de um baseado; assim, caminhando entre as pessoas, na maior cara-de-pau. Era forte pra caramba, cannabis indica.
Falamos sobre a canábis do Brasil, que é a sativa; ele falou que já conhecia, que era famosa; que um amigo percusionista carioca que trabalhara com ele recebia from Rio, trazida por outros músicos.
Ainda passamos por diversos stands, onde ele comprou várias outros artigos, em grande parte roupas.
O interessante é que ninguém o reconhecia; mas também, disfarçado como estava..., com enormes óculos de sol e chapéu. Falava gíria pra caralho e era extremamente desbocado. Na verdade só entendia 60% do que ele falava; muita coisa ele tinha que explicar com detalhes.
Comemos em um restaurante típico de comida do Kentuck (chicken and dumplings), que são pedaços de frango caipira fritados mergulhados em óleo fervente e com um molho adocicado acompanhados com batatas – um rango perfeito após a "larica").
Bebemos também várias doses de Jack Daniels.
Aí, lá pras tantas, ele veio com uma onda de viadagem - eu então: hit the road, Jim - pedi licença pra ir ao banheiro, deixei-o com a conta do almoço e saí pelos fundos no rumo da estação para pegar o Am Track de volta a Atlanta onde eu estava hospedado em um hotel de vigésima categoria.
O pior é que eu tinha deixado com ele um cartão de visitas com meu endereço em Coral Gables (Miami).
Aí, duas semanas depois...

Infelizmente não posso contar o resto da história aqui, pois vai perder o ineditismo. Está narrado no A Verdadeira História da Miami Mostra Natal, documentário inédito a ser lançado até o final deste ano.
Pois é, as minhas botas compradas no stand de botas usadas da Fan Fair, em Nashvile, Tenessee e pagas pelo rei do funk, ainda as conservo como relíquias. Belas recordações aventureiras.

É isto aí. "

Nenhum comentário: