sábado, 9 de dezembro de 2006

EUCLIDES PINTO MARTINS

Foto Arquivo/Laélio
A "LIBÉLULA DE AÇO"
- um cearense macho todo
A prioridade na travessia do Atlântico fica, sem contestação até agora, com Sacadura e Gago Coutinho - embora não tivessem passado por Natal, sempre o primeiro ponto atingido. A primeira "libélula de aço" a voar sobre a Cidade dos Reis Magos e amerissar no "Potengi amado", em 21 de dezembro de 1922, foi o hidroavião "Sampaio Correia", pilotado por Euclides Pinto Martins e Walter Hinton. Faziam um reide Nova York-Rio de Janeiro.Em segundo lugar, em 1927, pousando no Potengi, também com escala em Fernando de Noronha, o circunspecto e desconfiadíssimo Marquês Francesco De Pinedo. O avião do italiano ("Santa Maria") seria o segundo aeroplano visto pela população natalense.Pinto Martins - hoje nome do Aeroporto de Fortaleza - não era desconhecido em Natal. Nascido em 1892, em Camocim, no Ceará, muito cedo veio, com parentes, para Natal. O pai era de Mossoró, mexia com salinas. Estudou, como nós, no vetusto "Atheneu", morou na Rua Chile, na Ribeira. Aos quinze anos, tornou-se embarcadiço e foi morar nos Estados Unidos, onde casou e se fez Engenheiro-mecânico. De volta ao Brasil, trabalhou para o Governo. Apaixonado pela aviação, retornou à América, tornou-se aviador e organizou a temerária aventura. Na primeira tentativa, caiu em Guantânamo, em Cuba, destroçando totalmente o aparelho. Uma canhoneira americana, a "Denver", o recolheu e aos quatro companheiros : Hinton, um mecânico, um cinegrafista da Pathé e um repórter do "New York World".O danado do cearense conseguiu, em Pensacola, na Flórida, outro avião - caíndo aos pedaços ! Tenazmente, de prego em prego, fez o percurso New York-Rio em 175 dias. No ar, em vôo, gastou pouco mais de 100 horas.A chegada, no Rio, em 8 de fevereiro de 1923, foi apoteótica. Multidões nas ruas, escolta de aviões da Marinha e o Presidente Bernardes recebendo-os no Palácio do Catete. Muita festa, prêmios, medalhas, selos comemorativos...Passada a festa toda, o homem foi esquecido. No Rio, deram-lhe o nome a um beco, na Lapa. Sacadura Cabral e Gago Coutinho - que não tinham chegado ao Rio (ficando na Bahia) receberam nomes de largas avenidas.Um ano e dois meses depois do triunfo, das festas e das homenagens, o praieiro de Camocim e quase natalense Euclides foi encontrado morto num quarto de hotel, com um balaço na cabeça. Tinha trinta e dois anos ! Andava deprimido, era viúvo da mulher americana e - diziam - enlouquecera de amores por uma bailarina. Deram-no, pois, como suicida. Depois, dúvidas foram levantadas, dando-o como assassinado. Interessado na prospecção de petróleo, iria ferir interesses muito poderosos dos americanos - gente que ele conhecia tão bem...Nas ruas do Rio, os irreverentes cariocas, fazendo gozação com os ilustres aviadores portugueses, ainda cantavam:
" Sacadura vem de bonde, Pinto Martins pelo ar"!
Laélio Ferreira de Melo

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