quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

TURISMO EM "MOSSORÓ CITY" ...

Do blogue do competente CARLOS SANTOS:




"COLUNA DO HERZOG (Primeira Edição)


O delírio do turismo e os filhos de Esparta


O jornalista Cassiano Arruda noticiou em sua prestigiosa coluna, domingo, 31 de dezembro/2006, em “O poti”, que a prefeita Fafá Rosado (PFL) participará em fevereiro de uma feira de fruticultura na Alemanha, abrindo caminho para o “turismo internacional” em Mossoró. Com todo respeito: o jornalista só conhece essa cidade pela propaganda oficial e relatos de bem-aventurados. Ligando a TV, a pátria mossoroense aparece como ambiente idílico e surreal.Na boa terra não existe sequer linha aérea semanal; raramente se encontra um restaurante aberto além das 23h; o museu há mais de quatro anos está destroçado (quase fechado); a capela histórica de São Vicente só abre em dia de Missa ou para velório de bacana e não temos uma única casa de câmbio. Num raro espaço de venda de produtos típicos, denominado de “Arte da terra”, tem de tudo - vatapá (afro-baiano), crepe (suíço), hot-dog (norte-americano) etc -, menos culinária nativa.De cosmopolita só possuímos o movimentado cabaré do “Anjo Gabriel” e o tráfico/consumo de crack e cocaína, de fazer inveja a Natal. Até para o “turismo sexual” estamos em baixa, com tanta mulher fazendo programa de graça mesmo. Dão por prazer, digamos assim, causando um dumping nos negócios profissionais.Por outro lado, começo a desdizer tudo que escrevi acima. Talvez possamos faturar em cima dos gringos como a cidade com maior número de espetinhos por metro quadrado do mundo.Tem mais: somos a única cidade que promove “reveillon” três dias antes da data correta (31 de dezembro); a única que realiza Carnaval somente na sexta-feira que antecede o período de momo; a única que comemora emancipação política intencionalmente em data incorreta; a única que vai erigir memorial em honra aos bandidos que tentaram saqueá-la há quase 80 anos, além de sermos a única em que todos os membros de uma mesma família já nascem ‘vocacionados à política’ e com ‘competência’ para o serviço público.Mas alerto, que por pouco Mossoró não obtinha um feito ainda mais inusitado: o de realizar um “Oktobeer Fest” no mês de dezembro. Perdemos essa por pouco em 2006. Porém, em 2007, a gente consegue essa nova marca incomum.É preciso que as pessoas de bem e conscientes resgatem Mossoró das trevas. Ela está imersa numa Idade Média temporã. Há anos que milhares de jovens migram para outros centros em busca de oportunidades. Seus pais se sacrificam para lhes oferecer futuro mais digno, desiludidos com o modelo de seleção estabelecido por uma elite dominante, incapaz de pensar além dos interesses dos quatro cantos da própria casa.Garotos ainda imberbes viajam para uma temporada de estudos em Natal, Fortaleza, Campina Grande etc, mas terminam virando as costas à sua terra-berço. Descobrem que na sociedade mossoroense, o Sol nasce para todos, mas a sombra e água fresca cabem – com exceções - à turma “da gente” e aos que topam se anular, num servilismo passado de pai para filho, como se fora herança milenar de castas indianas. Quem reagir é tratado como débil, insolente, anarquista ou recalcado.Exportamos nosso capital intelectual e força renovadora de trabalho para outros centros, como se a salvar a espécie. O efeito dessa fuga é uma óbvia estagnação social, empobrecimento per capita do grosso da população e escassez de referências humanas, afetando todos os setores de Mossoró. Estamos cada dia menores. Em Esparta, aos 7 anos, meninos eram entregues à cidade-estado para virarem guerreiros em sua defesa. Nós fazemos diferente: doamos os nossos adolescentes para serem soldados em outras pátrias. A maioria não retorna sequer para final de semana ou veraneio “em Tibau”.Por aqui vão ficando os que não podem “escapar”, os teimosos (como eu) e a porção que está se dando bem.Diversos filhos e agregados dos poderosos que residem longe, nem precisam voltar a Mossoró para relembrar o lado bom da terrinha e simularem seu civilismo e amor telúrico: basta passar mensalmente o cartão funcional no caixa eletrônico. Assim exaltam - à distância - o quanto adoram a Mossoró da gente. "

Nenhum comentário: