
Não te recordas, querida,
Da noite em que nos amamos,
Sob a frescura dos ramos
Da laranjeira florida?
Gemia a viola na aldeia,
A brisa um hino entoava
E a luz da lua inundava
A terra, de rosas cheia!
-
Lá na planície da serra,
junho alourava as espigas,
vinham de longe as cantigas
das moças de minha terra,
quando te vi, linda flor,
e da nolte à doce calma,
derramaste na minha alma
o eflúvio do teu calor!
-
Saudade! quanta saudade
da noite em que, ao céu sereno,
tu me abriste o seio, pleno
de aroma e de mocidade!
A' sombra da laranjeira,
por ti, visão da alegria,
do meu beijo a cotovia
cantou, pela vez primeira!
-
Tu esqueceste os ditosos
domingos embalsamados,
e os cantos apaixonados
dos jangadeiros saudosos
que, ao céu transparente e azul,
do estio nas tardes belas,
passavam, molhando as velas
abertas ao vento sul!
-
Tudo esqueceste, e mais nada
resta em tua alma enganosa,
dessa paixão desditosa,
dessa ilusão desfolhada,
que lembro todos os dias,
pensativo, a cada instante,
Ó lavandisca inconstante
das areias alvadias!
-
Talvez que esta alma não possa
acreditar, nunca mais,
nos teus beijos aromais,
nos teus sorrisos de moça!
Ai, meu doce malmequer,
que me deixaste em janeiro,
- como tudo é passageiro
no coração da mulher!
-
Ferreira Itajubá
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SERENATA DO PESCADOR (PRAIEIRA)
Othoniel Menezes
Praieira dos meus amores,
Encanto do meu olhar!
Quero contar-te os rigores
Sofridos a pensar
Em ti sobre o alto mar...
Ai! Não sabes que saudade
Padece o nauta ao partir,
Sentindo na imensidade,
O seu batel fugir,
Incerto do porvir!
Os perigos da tormenta
Nãoi se comparam querida!
Às dores que experimenta
A alma na dor perdida,
Nas ânsias da partida
Adeus à luz que desmaia,
Nos coqueirais, ao sol-pôr...
E, bem pertinho da praia,
O albergue, o ninho, o amor,
Do humilde pescador!
Quem vê, ao longe, passando,
Uma vela panda, ao vento,
Não sanbe quanto lamento
Vai nela soluçando,
A pátria procurando!
Praieira, meu pensamento,
Linda flor, vem me escutar
A história do sofrimento
De um nauta, a recordar
Amores sobre o mar!
Praieira, linda entre as flores
Deste Jardim Potiguar!
Não há mais fundos horrores,
Iguais a este mar,
Passados a lembrar!
A mais cruel noite escura,
Nortadas e cerração
Não trazem tanta amargura
Como a recordação,
Que aperte o coração!
Se, às vezes, seguindo a frota,
Pairava uma gaivota,
Logo eu pensava bem triste:
O amor que lá deixei,
Quem sabe se ainda existe?!
Ela, então, gritava triste:
Não chore! Não sei! Não sei...
E eu, sempre e sempre mais triste,
Rezava a murmurar:
'Meu Deis, quero voltar!"
Praieira do meu pecado,
Morena flor, não te escondas,
Quero, ao sussurro das ondas
Do Potengi amado,
Dormir sempre ao teu lado...
Depois de haver dominado
O mar profundo e bravio,
À margem verde do rio
Serei teu pescador,
Ó pérola do amor!
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