quarta-feira, 7 de março de 2007

MUNDÃO DE MERDA...!


UM SONETO DE DAMASCENO BEZERRA
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Conheci Damasceno Bezerra pouco antes da sua morte - eu, menino de calças curtas - aí pela metade da década de 40. Morava, o fescenino poeta, na Praia do Meio, quando ainda não existia a Avenida Circular, hoje “Sílvio Pedroza”, que a construiu (ou “Café Filho” ?). Casas de alvenaria, “de veraneio”, somente aquelas, poucas, da Ponta do Morcego ! Nada, ainda, de “Praia dos Artistas”. Fui, de bonde, com Papai, descendo ali, no início da ladeira, hoje dita “do Sol”. Tuberculoso, as pernas feridentas,alto,magérrimo, cabeleira despenteada, enfiado num velho e roto calção de banho, cheio de cana, recebeu-nos com alegria na casinha de taipa modestíssima, de pescador, o chão batido.Em 27 ou 28 (Cláudio Galvão sabe precisar), ele, Othoniel Menezes e José Janini, numa carraspana terrível, vieram do Alecrim ao Beco da Lama, para a saídeira, atirando na iluminação pública – escândalo monumental! Papai perdeu o emprego supimpa de Primeiro Oficial da Secretaria do Governo (de Zé Augusto); ele, Damasceno, o de Redator da “A República”; Jannini, a família deportou para o Rio, onde se deu bem. Era, o infeliz poeta, conversador admirável, pilhérico, fescenino! Nunca conseguiu dinheiro nem apoio oficial para publicar um livro prefaciado por Othoniel e de nome belíssimo: “Dias de Sol”!
Antônio Damasceno Bezerra foi Jornalista e Poeta. Nasceu em Natal em 22 de setembro de 1902, morrendo em 14 de setembro de 1947. Trabalhou na "A República", no "Diário de Natal" e na revista "Cigarra".
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Praia de Meio, Natal (Foto Web)


TUDO É MERDA...(*)
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O mundo é simplesmente merda pura,
E a própria vida é merda engarrafada;
Em tudo vive a merda derramada,
Quer seja misturada ou sem mistura.
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É merda o mal, o bem merda em tintura,
A glória é merda apenas e mais nada.
A honra é merda e merda bem cagada;
É merda o amor, é merda a formosura.
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É merda e merda rala a inteligência!
De merda viva é feita a consciência,
É merda o coração, merda o saber.
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Feita de merda é toda a humanidade,
E tanta merda a pobre terra invade,
Que um soneto de merda eu quis fazer...
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Damasceno Bezerra
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(*) A "obra-prima" do boêmio (que eu não conhecia, na íntegra) veio-me às mãos por intermédio de Oswaldo Ribeiro, Engenheiro e, nas horas vagas, o maior pesquisador "googlista" da paróquia - e a quem eu, carinhosamente, chamo de "Primão Colaço", numa referência a um possível (e muito desejado) parentesco com a família Menezes, ele, também, um dos seus representantes e herdeiro fiel da velha Casa de Portugal.

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