quarta-feira, 7 de março de 2007

CORRESPONDÊNCIA ANTIGA...






UM TAUMATURGO NA CORTE (*)


Thursday, January 27, 2005


Taumaturgo.


Meu saudar para o Cavalheiro !




Década de 60, segundo lustro. Ditadura comendo solta na Corte e nós, Mestre, estávamos por lá – em Brasília -, na liça, “pru dentro, comendo sodóro..."

Já se vão quase quarenta anos, mas tenho, ainda, na cachola, o número da Portaria do Ministro: "112". A excelência, o Presidente, era Iberê Gílson, um dos poucos e bons técnicos que a “redentora” colocou na “Egrégia Corte de Contas” – o TCU.

Este seu escudeiro, com algumas aprovações em vários concursos públicos era, na época, modesto e entusiasmado Escriturário TC-7, vindo de um quadro mais mixuruca ainda, o da Portaria. Tinha sido, em Natal, “Auxiliar de Conservação-TC12”, um eufemismo para “servente” ou “contínuo”.

Denominação essa que, por sinal, incomodava muito o meu antecessor no cargo. Essa figura, assim que recebeu o canudo, arranjou, sem concurso, às carreiras, ser adjunto-de-promotor numa das comarcas vizinhas e, muito sagaz, fez uma carreira dos seiscentos, chegando a desembargador.

Isto posto, Mestre, deixemos o “Rio Grande sem Sorte”, para retornar ao Planalto e ao Ministro.

O Serviço de Comunicações do Tribunal era uma negação. Dondocas cinqüentenárias, alcoólatras, homossexuais enrustidos e vai por aí.

O Presidente empurrou-me - e a mais dois colegas - a batata quente de botar tenência naquilo. Foi um inferno, mas chegamos lá ! Por nossa sugestão, e com o empenho do Iberê Gílson no plenário da Casa, defenestramos os inconvenientes e conseguimos – coisa inédita na história do Tribunal – criar, pago pela CLT, um “Quadro de Mecanógrafos”.

O que, também, não deixava de ser um apelido para “datilógrafo”. Evitávamos ferir práticas viciosas do Egrégio no que tangia ao Datilógrafos do Quadro da Secretaria, muitos deles apadrinhados puxa-sacos de Ministros. Coisas da Corte, meu Fidalgo...!

No princípio, os mecanógrafos – parece, eram vinte – foram todos lotados no SC - Serviço de Comunicações. Depois, os “homens” tomaram gosto e contrataram mais para as outras repartições.

A seleção era muito exigente; as provas de habilitação, os concursos, foram calcados nas mesmas matérias exigidas para os datilógrafos do chamado quadro permanente.

Nessa altura, Mestre Cavaleiro, entra Vossa Mercê na história.

Passando na Seção de Administração, chefiada, acho, pelo Walter Alves Rodrigues – eu que, se recordo bem, já estava partindo no rumo de Santa Catarina, como Delegado – dei de cara com um conterrâneo, talentoso Mecanógrafo de sorriso aberto e alma generosa.

Era Vossa Mercê !

Gajeiro e capitão do seu mar de norte certo; marinheiro na dura faina do “sangue e suor do pensamento”! Sorte do Tribunal de Contas e daquela Seção, que já contara com outro norte-rio-grandense, o também muito inteligente e circunspecto José Daniel Diniz.

O tempo passou, meu Capitão. Por enquanto, resta-nos a lembrança orgulhosa dos “antigos gestos heróicos” na batalha da Vida ! E, clara, a certeza de que ainda temos alento para empunhar, no guante, o toledano aço contra toda iniqüidade e ignorância.

Cá, da minha aldeia, modesto burgo, da minha Fescênia tupiniquim, com promessa de oferecer serviço à velha tralha de guerra - que ainda mui leal e honrada fica ao seu dispor para boa serventia ! –, peço resposta ao Mestre Cavaleiro, sob pena de formal queixa ao Senhor Bispo.

Seu fidelíssimo Escudeiro e Admirador,

Laélio Ferreira de Melo

(*) Taumaturgo Rocha é escritor e cronista, Subprocurador-geral da República aposentado.





A "GÊNIA" DE DIÓGENES (*)


Diógenes (da Cunha Lima), um abraço.


Vossa Mercê, vez por outra, provoca, cutuca!

Lá vai, pois, abaixo, mote e glosa sobre a “gênia”, Clotilde (Tavares) (**).

Infelizmente não conheço a figura, pessoalmente. Entretanto , há uns dois ou três anos atrás, fizemos – com a intermediação de Lenine Pinto, o Mestre Len of Cotovelo – uma “cantoria”, eu e a poeta.

Parte da peleja vai abaixo (Anexos). É uma escanzinada , a “gênia” ! Verseja à moda paraibana, colocando os versos do mote no final da glosa (9ª. e 10ª), diferente da nossa (5ª e 10ª). Dizem que é mais fácil. Não acho.

Saudar.

Laélio

(*) Diógenes da Cunha Lima é poeta, advogado de renome, escritor e professor. Foi Reitor da UFRN e é o Presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras .

(**) Veja Clotilde Tavares por ela mesma: http://www.clotildenews.digi.com.br/eumesma.htm


-

Cunha Lima descobriu

que Clotilde é uma gênia



Vá pra puta que pariu

quem duvidar do poeta :

traçando linha bem reta

Cunha Lima descobriu !

Não tem nada de xibiu

esse arroubo – data vênia !

Levou em conta a progênia,

o berço, a cuca aloprada,

diz de forma escancarada

que Clotilde é uma gênia !



Laélio/dezembro/2004


-



ANEXOS:


Senhora Dona Clotilde del Toboso:


Quero minha lança enfeitada

Com um cacho do teu cabelo


-


Com minh’alma renovada

Por tão gentil oferenda,

Toboso, com tua prenda

Quero minha lança enfeitada !

Hei de enfrentar a empreitada

Com competência, com zelo

- Não vou mais ao Cotovelo

Pedir licença ao meu Mestre

Pois vou virar burgomestre

com um cacho do teu cabelo !


-

Não abro mão da espada

Nem tampouco d’armadura

- Se fera a peleja, dura,

Quero minha lança enfeitada !

Tralha de guerra arrumada,

O peito arfante de zelo,

Sem ordem de Cotovelo

De recruta passo a Cabo

- Venho de lá e me acabo

Com um cacho do teu cabelo !


-


Do fiel escudeiro,

Laélio "Sancho" Ferreira


-


Caro Senhor (Réplica de Clotilde para Laélio):

-

Merece muita atenção

Bravo Sancho, a tua espada!


-

Tremente, pálida, aflita

Coração acelerado

Treme-me a mão ao bordado

Cai-me do cabelo a fita

Meu olhar se precipita

Além muralhas, na estrada

Prevendo a tua chegada

Com armas, corcel, brasão:

Merece muita atenção

Bravo Sancho, a tua espada.


-

Batalhas também travei

Empunhando armas ferozes

Que silenciaram as vozes

De quem feriu minha lei

Há muito tempo as guardei

A luta está terminada

Ou de novo começada

Já tens autorização

Merece muita atenção

Bravo Sancho, a tua espada.

-

Ao mestre de Cotovelo

Peçamos benevolência

Esqueçamos a prudência

Vamos seguir nosso apelo

Com um cacho do meu cabelo

Terás a lança enfeitada

Quando, a peça terminada,

Me aplaudires com emoção

Merece muita atenção

Bravo Sancho, a tua espada!

-

Meiga Senhora (Tréplica de Laélio):

-


Del Toboso, a minha espada

merece muita atenção !

-


Anda, assim, desobrigada

- sente falta da batalha -

mas, fiel, nunca me falha,

Del Toboso, a minha espada !

É, ainda, respeitada,

já feriu, sem distinção,

gente de raro brasão...

É de aço, toledana ,

é a minha durindana,

merece muita atenção !

-


Senhora, farei jornada,

vou conhecer seu Godot

- mas esse é o mote, o pivô:

"Del Toboso, a minha espada" !

Para palmilhar a estrada

falta-me autorização...

Vou dirigir petição

ao Mestre de Cotovelo

- estou certo que o apelo

merece muita atenção !

-


Natal/ago/2002

Saudar de Sancho Ferreira (Laélio)

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