quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

CANGULEIRO E PRESIDENTE

JOÃO CAFÉ FILHO


- BREVE ROTEIRO CRONOLÓGICO
LAÉLIO FERREIRA


1) João Fernandes Campos CAFÉ FILHO nasceu em Natal, na antiga rua do Triunfo, hoje Quinze de Novembro, na Ribeira, em 1899, no dia 3 de fevereiro;














2) O pai, João Fernandes Café, era funcionário público modesto, herdeiro empobrecido. Seus avós, do Ceará-Mirim, tinham sido donos de engenhos e terras;














3) Teve infância “canguleira” nas campinas da Ribeira da Natal de então, pequena e bucólica. Estudou na primeira escola evangélica do Estado (o pai era batista), depois foi para o Atheneu;





4) Freqüentando às sessões dos júris na Capital, entusiasmou-se pela advocacia. Foi para o Recife, trabalhar no comércio para se manter e estudar Direito. Com dificuldades financeiras, voltou a Natal sem o canudo de Bacharel, apenas com um diploma de eletrotécnico;
5) Por concurso público, recebeu, no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, a provisão de Advogado (rábula). Orador brilhante, estrategista lúcido, cheio de astúcias, conhecedor da legislação, fez-se defensor das camadas mais humildes da população (estivadores, trabalhadores rurais, pescadores, gente pobre, carente), granjeando largo prestígio e acumulando o ressentimento das classes mais abastadas da República Velha, no Estado;6) Fez-se Jornalista e político de oposição combativo, fundando jornais, defendendo os interesses dos sindicatos, recém criados no RN. Foi duas vezes candidato a Vereador, sem êxito, na década de 20;7) Organizador de passeatas e manifestações, foi preso diversas vezes, a residência cercada pela Polícia, chegando a cumprir pena de detenção, inclusive. Até 1930 - quando caiu a República Velha –, sempre perseguido, várias vezes ausentou-se do RN, trabalhando como Jornalista em Pernambuco, na Bahia, no Rio de Janeiro, na Paraíba;
8) Já conhecido nacionalmente, na Revolução de 1930, vindo do Estado vizinho, comandou a primeira coluna dos revoltosos a entrar em Natal, ordeiramente. Seu maior desafeto político, o Governador Juvenal Lamartine, derrotado, exilou-se na Europa;9) Participante ativo de todos os episódios políticos e administrativos do seu Estado e do País, o admirável tribuno elege-se Deputado Federal Constituinte em 1934,deixando a Câmara pouco antes do golpe do Estado Novo, em 1937. 10) Retorna deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1946. Mais tarde, em 1950, elege-se Vice-Presidente da República; 11) Antes de chegar à Vice-Presidência, político hábil que era, lembrado para governar o Estado, preferiu apoiar a candidatura de Dix-Sept-Rosado Maia. Iria, fatalmente, voar mais alto;12) Assumindo a Chefia da Nação no dia fatídico(24 de agosto de 1954), trágico e comovente da morte de Vargas, governou um ano e dois meses atropelado por conspirações e ameaças de golpe vindas das casernas e da pena brilhante, ferina e iconoclasta de Carlos Frederico Werneck de Lacerda, que, anos depois, num gesto nobre, amparou o potiguar ilustre, nomeando-o Ministro do Tribunal de Contas do Estado da Guanabara;13) Não terminou o mandato. Vítima de um dos cinco enfartes que teve durante a
existência atribulada, afastou-se da presidência em onze de novembro de 1955, substituindo-o o Presidente da Câmara, Deputado Carlos Luz;
14) Restabelecido, tentou reassumir o governo mas o seu impedimento,urdido nos bastidores da oposição, foi aprovado pelo Congresso Nacional(em 22 de novembro e em dezembro confirmado pelo Supremo Tribunal Federal);

15) Vice-Presidente, Café Filho assumiu o Governo em condições dramáticas e surpreendentes. Confessaria, depois, não se encontrar politicamente preparado, porque não tinha base parlamentar suficiente para as árduas e complexas responsabilidades. Surgiram as críticas;
16) Aqui, na nossa terra, durante e depois do seu curto período de governo, os próprios “cafeístas". correligionários fiéis das primeiras horas nas lutas dos sindicatos e no jornalismo de oposição -, muitos deles presos e humilhados nas cadeias do Estado Novo, taxados de subversivos na chamada "Intentona Comunista de 35", quase todos, afirmam muitos estudiosos, se decepcionaram com o Presidente conterrâneo. Restou um misto de alegria e decepção – dúvidas, críticas, controvérsias, até os nossos dias; 17) Contando a própria vida, nas memórias que deixou à posteridade("Do Sindicato ao Catete"), de certa forma justificando-se pelos erros cometidos, Café Filho transcendeu o terreno pessoal para se entrelaçar com a própria história do Estado e do País, nos seus momentos mais graves -tarefa que exigiu, além da imperiosa base de verdade, muita vivência, habilidade, inteligência e muita humildade, sobretudo; 18) Homem probo e pobre, homem raro que recebendo, inesperadamente, no último ato da tragédia de Getúlio Vargas, a alta investidura na Presidência da Nação, não deixou, que as grandezas do cargo lhe subissem à cabeça. Morreu no Rio de Janeiro, aos 71 anos, em 20 de fevereiro de 1970.

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